Ao adentrar em sua tarefa, o tradutor sempre estará diante de uma promessa, a partir do contrato realizado ele e o original. Esse contrato pressupõe a apropriação de todos os sentidos e significados que supostamente estavam dados desde a obra que ele busca traduzir. A partir disso observamos que, o tradutor comete perjúrio ao prometer algo, que não pode garantir: a pureza dos significados que se apresentam em sua travessia tradutória. Com base na perspectiva desconstrutivista de Jacques Derrida, tomando a sua discussão sobre a tradução, a tarefa do tradutor e a representação, investigamos como o tradutor representa o Outro no contexto da tradução, levando em conta as peculiaridades da língua roseana, especificamente a grandeza e a significação do sertão, na obra The Devil to Pay in the Backlands (1963) / Grande Sertão Veredas (1956). Evidenciamos que a desconstrução, a tradução e a representação possuem uma forte ligação, a partir do momento que em que a desconstrução permite uma melhor percepção de ambas. Ressaltamos também que, no momento em que se torna perceptível a inexistência de um mundo Ideal e o distanciamento da representação como mimese, como cópia de um modelo padrão existente, há o reconhecimento do constante encadeamento de significados que, envolve as línguas e também o processo tradutório. Tal consideração leva a tradução a se travestir de representação, fazendo com que o tradutor busque não só transformar, mas representar o Outro com o objetivo de cumprir a sua tarefa. Essa necessidade de delinear o Outro, a partir de estereótipos, aspectos ideológicos, culturais e políticos nos leva a noção de “Tradução como representação do Outro”. Essa relação tão próxima da tradução com a representação é perceptível em toda tradução, e ainda mais visível na tradução do sertão roseano. O sertão expõe a desestabilização da tradução, quando apresenta a diversidade de seus significados, inicialmente na sua própria língua, a língua portuguesa. Não há como definir sertão em português. Nesse sentido, traduzir sertão, leva os tradutores, a todo o momento, a uma representação, uma apresentação do sertão, de um sertão, dos sertões presentes na obra de Rosa. Na sua tradução eles, os tradutores, deixam transparecer a grandeza e significação do sertão a partir das soluções que apresentam, por exemplo, quando traduzem sertão por backlands, ou simplesmente eliminam a palavra. Traduzir o sertão, a partir da língua de Guimarães Rosa, expõe a tarefa do tradutor e todas as suas travessias e encruzilhadas, que se apresentam para ele, envolvendo-o num verdadeiro redemoinho.