A conjugalidade é um dos vetores de produção de subjetividades. Complexa, esta se mostra atravessada por aspectos socioculturais contemporâneos e transgeracionais que contornam a história de vida pessoal dos parceiros, sustentando processos de repetição e de criação. Neste contexto, este estudo objetivou apreender as possibilidades de uma ação criativa e reinvenção de outras dinâmicas de relacionamento frente aos modelos conjugais parentais e socioculturais, analisando a conjugalidade de casais da camada média da região Sudeste do Brasil. No percurso teórico, levamos em consideração o contexto do mundo social que dinamiza os valores que atravessam a vida a dois, apresentando aspectos socioculturais da trajetória que a conjugalidade trilhou, analisando as transformações instauradas nas relações amorosas desde o desmantelamento das organizações tradicionais à instituição do individualismo na Modernidade e, em seguida, à exacerbação de certas características na contemporaneidade. Em seguida, optamos por realizar um estudo sobre a questão da transgeracionalidade na perspectiva da psicanálise de família e casal, destacando as contribuições de René Kaës e de Alberto Eiguer para a compreensão do fenômeno da transmissibilidade e da repetição dos modelos conjugais parentais, assim como as possibilidades de os sujeitos escaparem aos mesmos e reescreverem uma nova história. A partir da perspectiva de Edith Stein, buscamos uma compreensão da estrutura do sujeito humano e da noção de pessoa, o que permitiu vislumbrar, através da categoria da vida espiritual com suas características e leis próprias, as possibilidades e limites reais do sujeito se posicionar de forma pessoal e inovadora, codeterminando o curso de sua vida. Ainda em Stein, traduzimos a conjugalidade nos moldes da comunidade, apresentando aspectos éticos e fundamentais para a constituição da vida em comum. Além do estudo teórico realizamos uma pesquisa de campo qualitativa, investigando um casal e seus pais, compondo um total de três casais, a fim de captar os movimentos dos sujeitos em relação à família de origem e ao contexto social. Para a coleta de dados recorremos a quatro entrevistas semiestruturadas, individual e de casal, focadas em suas vivências correlacionadas à conjugalidade do casal e à conjugalidade parental, seguindo os temas espontaneamente evidenciados pelos próprios sujeitos. Dividimos as categorias segundo esses temas e realizamos uma análise de conteúdo de suas vivências. Nossa pesquisa permitiu perceber tanto os movimentos de repetição de uma geração à outra, quanto os de transformação e de criatividade, demonstrando que, de fato, existe a possibilidade de os sujeitos não se identificarem com os modelos conjugais parentais e de se autoconfigurarem de modo diferenciado e criativo, construindo outras maneiras de viver a dinâmica conjugal. A conjugalidade também se mostrou um lugar de formação, evidenciando que a responsabilidade com o que circula em sua dinâmica é uma questão compartilhada entre o ambiente que forma e a pessoa que nele se autoconfigura.