O receptor P2X7 (P2X7R) é expresso principalmente em células do sistema imune e está envolvido em processos celulares como na inflamação, morte celular e estímulo da dor. Em concentrações na faixa de micromolar de seu agonista endógeno, adenosina trifosfato (ATP), apresenta-se como um canal de baixa condutância (15pS) permeável a cátions mono e divalentes, como os íons sódio e cálcio. No entanto, em concentrações na faixa de milimolar de ATP, o P2X7R apresenta um estado de alta condutância iônica (400pS). Associado a esse estado, há a abertura de um poro não seletivo que permite passagem de moléculas de até 900Da através da membrana plasmática, conforme o gradiente eletroquímico. Embora o P2X7R seja bem descrito na literatura, ainda são desconhecidos agonistas e antagonistas seletivos, seja para o canal seja para o poro não seletivo, que permitam a discriminação desses dois estados de condutância descritos anteriormente. Além disso, os mecanismos envolvidos na abertura deste poro, como também a sua identidade são desconhecidos até o momento. Atualmente, há pelo menos duas hipóteses para explicar o fenômeno da abertura do poro: a) ele seria formado a partir da dilatação do próprio P2X7R, ou b) após a ativação do P2X7R, haveria uma sinalização intracelular que levaria à abertura de uma proteína distinta responsável pela abertura do poro. Nesse contexto, estudamos um possível envolvimento de outras proteínas formadoras de poros na formação do poro associado ao P2X7R. Entre elas está o TRPV1 (Transient receptor potential vanilloid 1), um canal catiônico com perfil polimodal de ativação e participa de processos fisiológicos em comum com o P2X7R. A Capsaicina é responsável pela ardência em pimentas e atua como agonista específico do TRPV1. Sua aplicação na faixa de micromolar e por tempo prologado é capaz de levá-lo a um estado de ativação semelhante ao encontrado no P2X7R, no que se refere à abertura de um poro não seletivo de mesma ordem de grandeza do P2X7R. Nesse sentido, o objetivo central de nosso estudo é verificar se há comunicação entre esses dois receptores no processo de formação do poro associado ao P2X7R. Para tal fim, usamos diferentes tipos celulares, como células gliais e macrófagos primários que estão sendo estudados em ensaios de permeabilização celular, citometria de fluxo, eletrofisiologia e de mobilização de cálcio intracelular. Em nossos resultados preliminares, a capsaicina induz a abertura de um poro associado ao TRPV1, que é inibido frente aos antagonistas do TRPV1, ruthenium red e Capsazepina, e do P2X7R, brilliant blue G (BBG) e ATP oxidado. O poro associado ao P2X7R, de forma semelhante, foi inibido pelos antagonistas do receptor TRPV1. Esses resultados indicam que poderiam existir sinalização em comum entre os poros formados pelos receptores P2X7R e o poro ativado pela capsaicina.