Consideramos que a experiência familiar de cuidado carece de ser visibilizada e valorizada, visto que, no cuidar para a vida e para a saúde, a família é elemento central, tanto na sua provisão quanto na busca por práticas profissionais e insumos de diferentes ordens. Objetivamos compreender a modelagem do cuidado familiar à idosa em situação crônica de Alzheimer. Conforma-se como estudo de situação, de abordagem compreensiva, empregando entrevista em profundidade e observação para embasar a história de vida de Sara, 70 anos, que vivencia situação crônica por Alzheimer, sob os cuidados do esposo Abraão e demais familiares. Tal perspectiva compreensiva tem nos conduzidos à postura aberta, sensível e atenta, possibilitando apreender os modos como a família se organiza para modelar a miríade de cuidados peculiares requeridos por Sara ao longo do seu adoecimento, bem como entender que esse modo de ser cuidada se vincula a sua própria história de cuidado à família. O movimento do esforço compreensivo, pautados por mergulhos graduais e intensos, possibilitou relevar eixos de sentidos importantes: a) “Vida de cuidado de Sara”; b) “Relação do matrimônio”; c) “Sustentação familiar para o cuidado/cuidados cotidianos à Sara”; d) “Atos e atitudes de cuidado realizados por Abraão”. Tais eixos subsidiaram a compreensão dos resultados deste estudo: a) “Aproximação à vida de Sara e família: o genograma”, que possibilitou nos inteirarmos do contexto da experiência familiar de cuidado na situação crônica por Alzheimer. Para isso, trouxemos uma breve descrição da família e apresentamos o desenho do genograma, que evidencia a conformação familiar e os movimentos para o cuidado à idosa; b) “A dádiva e o cuidado no tempo do vivido em família”, que possibilitou evidenciar o intenso esforço despendido por Abraão e família na provisão e gerenciamento do cuidado a Sara, denotando uma tecitura afetiva e laboriosa que, no âmbito de seus potencias, modela o cotidiano em ricas possibilidades de cuidados cada vez mais aprimorados “na e para” sua vida, reatualizando, assim, o circuito da dádiva; e c) “Arborescência do cuidado familiar na situação crônica do Alzheimer”, em que explicitamos o “substrato” da vida de cuidado de Sara, anterior à instauração do adoecimento, como potente húmus alimentador para uma miríade de cuidados no presente, mantenedor da sua vida, dada a completa dependência que tem deles. O estudo evidenciou modos personalíssimos da família cuidar ‘na e para’ a vida ao longo do tempo, em uma tecitura afetiva e laboriosa que permeia o cotidiano. Ressalta-se a importância de os profissionais de saúde compreenderem esse cuidado intimista que a família realiza, considerando os laços que une seus entes ao longo do tempo, de modo a apoiá-los com o substrato necessário a esse cuidar.