Introdução: O prognóstico de pacientes portadores de hipertensão pulmonar
(HP) está diretamente relacionado à função do ventrículo direito (VD). A medida
do strain miocárdico é um método preciso e prático de avaliação da função do VD,
por se tratar de um marcador mais sensível e precoce de disfunção contrátil do
que outros métodos disponíveis, como a fração de ejeção. Atualmente, a técnica
mais difundida para aferição do strain é a avaliação do tagging miocárdico pela
ressonância magnética cardíaca (RMC); no entanto, trata-se de um método
laborioso e de difícil execução técnica. Por outro lado, a recente metodologia de
feature tracking pela ressonância magnética cardíaca (RMC-FT) permite rápida
execução e análise do strain, uma vez que são utilizadas imagens tradicionais de
cine-ressonância sem a necessidade de aquisições adicionais. Objetivos:
Determinar a viabilidade, o valor clínico e prognóstico da análise do strain e do
strain rate do VD pela RMC-FT em pacientes com HP. Métodos: Foram avaliados
retrospectivamente 116 pacientes (idade 52,2 ± 12 anos, 73,6% mulheres)
referenciados para realizar RMC para avaliação de HP e que foram submetidos a
cateterismo cardíaco direito com no máximo 1 mês de intervalo. Usando um
software dedicado de RMC-FT, strain e strain rate longitudinal e circunferencial
globais (SLG, SRLG, SCG, e SRCG, respectivamente) foram quantificados a
partir de imagens de cine-ressonância padrão. Através da análise de regressão
multivariada foram avaliadas as associações de strain com desfecho composto de
morte, transplante de pulmão, ou piora da classe funcional. Resultados: A
análise do strain do VD foi possível em 110 (95%) pacientes. Os pacientes foram
classificados em: Grupo A (sem HP, FEVD normal; n=17), Grupo B (HP, FEVD
normal; n=26), ou Grupo C (HP, FEVD anormal; n=67). Todos os valores de strain
e strain rate apresentavam-se reduzidos no Grupo C. Além disso, SRCG estava
significativamente reduzido no grupo B em relação ao Grupo A (-0,92 [-1,0 a -0,7]
versus -1,12 [-1,3 a -0,9]); p<0,001). Após ajuste estatístico para seis covariáveis
clinicamente relevantes, SLG (Hazard Ratio (HR) 1,06; IC 95% [1 a 1,12];
p=0,026), SRLG (HR 2,52; IC 95% [1,03 a 6,1]; p=0,04), e SRCG (HR 4,5; IC 95%
[1,3 a 15,6]; p=0,01) estiveram associados de forma independente com o
desfecho composto. SRCG foi capaz de discriminar com sucesso pacientes com
eventos daqueles sem eventos (HR 4,5; IC 95% [1,3 a 15,6]; p=0,01). Conclusão:
A quantificação do strain e do strain rate do VD com a CMR-FT é exequível na
maioria dos pacientes portadores de HP, correlaciona-se com a gravidade da
doença e é um fator independente associado a pior prognóstico.