Introdução: As interações medicamentosas (IMs) podem resultar em reações adversas medicamentosas (RAMs) com altas taxas de mortalidade e com um significativo impacto nos sistemas de saúde. Objetivo: Buscar evidências de IMs de relevância clínica entre psicofármacos por meio da análise de notificações de suspeitas de RAMs (SRAMs). Método: Utilizando notificações de SRAMs, foram descritos e analisados os relatos dos eventos adversos e os fármacos citados. Em seguida, foi selecionado o fármaco mais notificado e com o maior número de eventos graves, e posteriormente as associações medicamentosas desse fármaco. Foram utilizadas informações da literatura e da bula para classificação e discussão das SRAMs e IMs, sua previsibilidade, os mecanismos relacionados e a relevância clínica. Resultados: Foram analisadas 411 notificações, sendo 36% (n=149) dos eventos classificados como graves. Os antidepressívos foram responsáveis por 50% (n=204) das SRAMs notificadas e por 40% (n=59) dos eventos classificados como graves; a classe farmacológica mais notificada foi dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina. O desfecho mais frequente entre os eventos graves foi a hospitalização 46%. A venlafaxina (VEN) foi o fármaco mais notificado (10% das 411 notificações) e com o maior número de eventos graves (8% dos 149 casos). Foram citados 21 fármacos, utilizados concomitantemente com a VEN, sendo os benzodiazepínicos (n=10) a classe farmacológica mais co-notificada, como o clonazepam, o fármaco mais co-notificado com a VEN. As manifestações clínicas foram agrupadas em doenças do sistema nervoso (55%), gastrointestinais (41%) e perturbações do foro psiquiátrico (28%), dentre os quais, a falha terapêutica (n=4) foi a mais notificada. Os eventos mais graves com a VEN foram um aborto, um parto prematuro com morte do recém-nascido, um acidente vascular cerebral, um acidente vascular cerebral com depressão recorrente e morte. A nortriptilina, clomipramina, bupropiona e a buspirona foram classificados como risco de IM grave quando associadas a VEN, enquanto a mirtazapina, naratriptana, lítio e o propranolol foram classificados como moderadas. Discussão: A maioria das manifestações clínicas/eventos adversos descritos nas notificações com a VEN são consistentes com as fontes consultadas, mas alguns não são citados na bula
ou são descritos indicando a necessidade de maiores estudos. Por outro lado, em sua maioria, as bulas consultadas não citaram diretamente a previsibilidade de IMs adversas da VEN com os demais fármacos co-notificados, mas fazem alertas sobre o risco de IMs adversas, considerando algumas classes terapêuticas ou pelos mecanismos farmacodinâmicos e farmacocinéticos. A VEN possui um dos maiores índices de toxicidade dentre os antidepressívos e existem publicações indicando o risco de RAMs e IMs não descritos na bula. Também se observou diferenças nos dados entre as fontes consultadas e conflitos de interesse em publicações. A mirtazapina apresentou maior concordância entre as fontes consultadas para o risco de IM, mas não estava descrita na bula da VEN. Não foram encontradas evidências diretas de uma possível IM entre o clonazepam e a VEN, mas ambos compartilham uma mesma via de biotransformação. A literatura consultada indicou que o efeito adverso mais frequente, resultado de uma possível IM com a VEN e os fármacos co-notificados seria a síndrome serotoninérgica e em alguns casos o aumento do intervalo QT. O possível mecanismo de IM com a VEM, descrito mais frequentemente nas fontes consultadas, seria pela inibição do citocromo P-450 (CYP), também foram descritos possíveis efeitos aditivos. Conclusões: A análise das notificações de SRAMs, com base na literatura, sugere que o uso concomitante da VEN com alguns fármacos está relacionado a suspeitas de IMs pouco conhecidas e graves associadas a modificações na atividade da CYP2D6 e 3A4. O presente trabalho indica a necessidade de estudos de IM entre a VEN e o clonazepam, além da revisão de alguns dados apresentados na bula da VEN e medidas de monitoramento, especialmente para pacientes com insuficiência renal, hepática, gestantes, polimedicados e biotransformadores lentos.