Toxoplasma gondii é um parasito de ampla distribuição mundial e apresenta uma estrutura
populacional clonal. Estudos recentes evidenciaram maior variabilidade genética deste
protozoário no Brasil em animais domésticos e silvestres, necessitando-se de maiores
pesquisas neste último grupo. Objetivou-se isolar e caracterizar genotipicamente Toxoplasma
gondii em tecidos de mamíferos e aves silvestres naturalmente infectados, provenientes de
vida livre e de cativeiro, no estado de Pernambuco e verificar a ocorrência de anticorpos
contra o parasito nas amostras em que foi possível obter o soro. De março de 2014 a setembro
de 2015, foram colhidas amostras biológicas de 233 animais, sendo 113 aves e 120
mamíferos. Considerando a origem, 77 foram de vida livre e 156 de cativeiro, oriundos de um
zoológico e de um Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS). O exame sorológico
foi realizado em 165 animais (59 aves e 106 mamíferos) por meio do Teste de Aglutinação
Modificado (MAT). Em 105 animais (71 aves e 34 mamíferos) houve colheita de fragmentos
de coração, cérebro, músculo esquelético e diafragma. Destas 105 amostras, 32 foram
submetidas ao bioensaio em camundongos e 73 foram submetidas a diagnóstico molecular
direto por PCR a partir de um fragmento de 155-pb do gene B1. Para a análise de virulência
das cepas, os camundongos utilizados nos bioensaios foram avaliados por quatro semanas
quanto à manifestação de sinais clínicos de toxoplasmose. As amostras positivas de animais
silvestres e camundongos foram submetidas à genotipagem pela técnica de PCR-RFLP,
utilizando os marcadores SAG1, 5’3’SAG2, SAG2, SAG3, BTUB, GRA6, c22-8, c29-2,
L358, PK1, Apico e CS3. Anticorpos anti-T. gondii foram encontrados em 52,7% (87/165)
das amostras, com maiores percentuais em animais de cativeiro (61,6%, 78/125) do que em
animais de vida livre (22,5%, 9/40). No bioensaio, isolou-se uma amostra não virulenta, do
genótipo #13 em um socozinho (Butorides striata) de vida livre proveniente de Recife. Das
73 amostras primárias submetidas à PCR, sete foram positivas, com identificação o genótipo
Type BrIII em uma lontra (Lontra longicaudis) de cativeiro. Os dois genótipos identificados
corroboram com a existência da variabilidade genética de T. gondii em Pernambuco. Dois
macacos-pregos-galegos (Sapajus flavius) positivos pela PCR tiveram achados de necropsia
compatíveis com óbito por toxoplasmose aguda. O aprimoramento de programas de medicina
veterinária preventiva e biossegurança para o controle da toxoplasmose deve ser realizado em
instituições que mantém fauna silvestre ex situ.