Propõe-se aqui fazer uma discussão em torno das relações de gênero e
de geração presentes nas atividades de pesca artesanal. Trata-se de
problematizar, a partir de uma pequena comunidade da Amazônia Oriental
(Comunidade de Bonifácio, Bragança – Pará) de que forma essas relações estão
sendo (re) construídas e representadas pelas pessoas desse contexto social.
Para tanto, o trabalho de campo, que contou com entrevistas parcialmente
estruturadas, grupos focais, associação livre, associações livres, observação do
cotidiano da comunidade serviram como suporte na aproximação e na
compreensão do fenômeno pesquisado. Ainda nesse sentido, a participação na
rotina de várias famílias da comunidade, incluindo alimentação conjunta,
pescarias, atividades domésticas e de manutenção dos instrumentos de pesca,
fizeram parte do percurso metodológico. Assim, foi possível perceber que na
Comunidade de Bonifácio o uso dos espaços e dos recursos naturais está
rigidamente estruturado a partir da hierarquização de gênero – isso é de homem,
aquilo é de mulher. Há trânsito de homens e de mulheres no variado conjunto de
tarefas executadas na localidade (confecção e conserto de instrumentos de
pesca, captura, processamento do pescado, por exemplo). Mas esse trânsito
não pode ser lido apressadamente, como se indicasse que não há uma divisão
sexuada do trabalho e que a sociedade não se estrutura nas relações de gênero.
Também, foi percebido como a organização etária, a partir de grupos de idades,
é também uma construção cultural. E embora essa organização varie de
sociedade para sociedade, ela está presente em todas elas, o que em certa
medida, acaba definindo, ainda na infância, os saberes, os valores, os papéis e
os lugares de gênero e de geração, inclusive nas atividades pesqueiras. Por fim,
nota-se que nas comunidades aonde se materializa a pesca artesanal são
diversas as relações em rede – relações de gênero, relações de geração,
relações com a natureza – que estruturam as diferentes formas complexas de
manejo do ambiente social, cultural, simbólico, ambiental