O ferro é essencial no cérebro neonatal para o desenvolvimento neurológico normal e para o
estabelecimento da concentração de ferro no cérebro adulto, já que a absorção de ferro é
máxima durante o período neonatal. Acredita-se que a sobrecarga de ferro contribua para o
desenvolvimento da neurodegeneração, na exacerbação das taxas normais de apoptose, em
grande parte devido à sua participação na reação de Fenton e produção de espécies reativas de
oxigênio. Estudos prévios em nosso laboratório demonstraram que o tratamento com ferro no
período neonatal piora a memória, bem como aumento em parâmetros de estresse oxidativo e
em níveis de proteínas apoptóticas. Recentemente, também demonstramos que esse
tratamento reduz os níveis de sinaptofisina (um marcador sináptico) em hipocampo de ratos.
As mitocôndrias estão envolvidas neste processo por serem consideradas a fonte intracelular
principal do ânion superóxido bem como o alvo principal de ataque de radicais livres. São
organelas altamente dinâmicas que se unem (fusão) e se dividem (fissão) em resposta a
estímulos ambientais, status de desenvolvimento, e as necessidades energéticas das células.
As mitocôndrias são amplamente distribuídas por todos os neurônios, porém subpopulações
de mitocôndrias são enriquecidas pré-sinapticamente nos terminais nervosos e póssinapticamente
nos dendritos. Além disso, estas têm sido implicadas na patogênese de uma
ampla variedade de doenças neurodegenerativas, onde sinapses são conhecidas por serem o
alvo principal. O Sulforafano é um composto natural que vem sendo estudado desde a década
de 1980 e considerado por possuir propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. O presente
trabalho visa investigar os efeitos do tratamento com Sulforafano na idade adulta sobre os
déficits de memória e sobre alterações em marcadores da função mitocondrial, DNML1 e
OPA1, e marcador sináptico sinaptofisina, induzidos pelo tratamento neonatal com ferro. Os
ratos Wistar machos receberam, por via oral, veículo ou ferro carbonila (30mg/kg) do 12º ao
14º dia pós-natal. Na idade adulta, para a avaliação dos efeitos do tratamento agudo com
Sulforafano sobre a memória, os animais foram treinados na tarefa de reconhecimento de
objeto e receberam uma única injeção, por via intraperitoneal, de veículo ou Sulfarafano (0,5
ou 5 mg/kg) imediatamente após o treino. Para a avaliação dos efeitos do tratamento crônico
com Sulforafano sobre a memória, os animais foram tratados com veículo ou Sulfarafano (0,5
ou 5 mg/kg) durante 14 dias, em dias intercalados e treinados na tarefa de reconhecimento de
objeto 24 horas após a última injeção. A análise de memória foi realizada através do índice de
reconhecimento, expresso pela razão entre a quantidade de tempo gasto na exploração do
objeto novo sobre o tempo total gasto explorando ambos os objetos. Os níveis protéicos de
DNML1, OPA1 e sinaptofisina no hipocampo foram quantificados através de Western
blotting. A quantificação das proteínas foi realizada através da medida das densidades das
bandas individuais, normalizadas pela densidade de β-actina. Os dados foram analisados
através das comparações entre as médias por análise de variância de uma via (ANOVA),
sendo o p<0,05 considerado estatisticamente significativo. Nossos resultados mostraram que o
tratamento agudo com Sulforafano (0,5 mg / kg) não melhora a memória mas na dose de 5
mg/kg foi capaz de restaurar a memória e no tratamento crônico com Sulforafano, ambas as
doses recuperam a memória em ratos tratados com ferro no período neonatal. O Sulforafano
na dose de 5 mg/kg também recupera os danos mitocondriais causados na DNM1L e
sinaptofisina no hipocampo, corroborando com um possível papel neuroprotetor para esse
composto.