Febre Catarral Maligna (FCM) é uma enfermidade infecciosa viral, aguda, pansistêmica, que acomete principalmente ruminantes domésticos e selvagens. A doença possui alta letalidade e no Brasil tem sido relacionada ao herpesvírus ovino2. A doença é relatada em várias regiões do Brasil, porém não há dados da mesma na região norte do país e no estado do Maranhão. O objetivo deste trabalho foi descrever os achados epidemiológicos, clínicos, patológicos e moleculares de surtos de FCM ocorridos em bovinos de quatro propriedades rurais no estado do Pará e duas no estado do Maranhão. Em cinco propriedades foi observada a criação consorciada entre bovinos e ovinos. A taxa de morbidade variou de 0,07% a 37,14% em todos os surtos, enquanto a taxa de letalidade foi de 100% na maioria destes. Em apenas um surto, a letalidade foi de 99,5%, devido a recuperação de um animal. Os principais sinais clínicos incluíram hipertermia, opacidade de córnea, ceratoconjuntivite, secreção ocular e nasal, sialorreia, anorexia, diarreia, erosões e ulcerações na mucosa oral e desordens neurológicas. As principais alterações observadas nas necropsias foram lesões erosivas e ulcerativas nas mucosas da cavidade oral, da língua, da gengiva, do esôfago, da cavidade nasal e da traqueia. Adicionalmente foi observado exsudato catarral nas narinas, hiperemia e edema nos cornetos nasais, além de petéquias e hematomas na face central da língua e esôfago, respectivamente. Outros achados relevantes nos surtos foram aumento de volume de linfonodos e placas de Peyer, focos esbranquiçados no córtex renal, lesões ulcerativas e hemorrágicas na bexiga e hiperemia nas leptomeninges do encéfalo. Microscopicamente, o principal achado foi vasculite com necrose fibrinoide em artérias de pequeno e médio calibre de múltiplos órgãos. Outros achados frequentes foram necrose e inflamação de epitélios de revestimento em vários tecidos, hiperplasia linfoide, bem como, encefalite, nefrite, cistite e pneumonia intersticiais não supurativas. O DNA do herpesvírus ovino tipo 2 foi detectado pela técnica de reação em cadeia de polimerase (PCR) em tecidos fixados em formol e incluídos em parafina de bovinos de um dos surtos no estado do Pará e nos dois surtos no estado do Maranhão. Os dados do presente trabalho confirmam a ocorrência da FCM em rebanhos bovinos do estado do Pará e Maranhão e demonstram que a enfermidade deve ser considerada no diagnóstico diferencial de doenças neurológicas ou digestivas em bovinos em ambos estados.