Biomineralização é o processo relacionado à formação de minerais com a
participação direta ou indireta de organismos, sendo produzidos no interior ou na
superfície das células. Macroalgas marinhas da ordem Corallinales (Rhodophyta)
mineralizam carbonato de cálcio em suas paredes celulares na forma do mineral calcita. As
algas calcárias incrustantes são as principais formadoras de estruturas calcárias nodulares
de vida livre denomidadas rodolitos. Este trabalho caracterizou a estrutura de rodolitos de
dois locais da costa leste brasileira, o litoral sul do Estado do Espírito Santo e a Plataforma
de Abrolhos, e estudou o processo de biomineralização de algas calcárias formadoras de
rodolitos, tendo como modelo a espécie Lithothamnium crispatum. A forma e o tamanho
dos rodolitos, a estrutura interna e a composição interna dos rodolitos foram estudados
comparando amostras das regiões norte, centro e sul da Plataforma de Abrolhos e de
profundidades rasas (até 32 m) e funda (50 m) do litoral do ES. Os rodolitos apresentam
forma esférica à subesférica, tendendo à elipsóide no ES raso e à discóide em
profundidades maiores do ES e de Abrolhos centro. O diâmetro médio dos rodolitos do ES
raso é significativamente menor (4,7 cm) do que os dos demais locais de coleta (8,4 cm).
Rodolitos do ES e de profundidades rasas de Abrolhos norte apresentam estrutura interna
laminar, enquanto os demais apresentam estrutura interna massiva. Diferenças
significativas nos valores de densidade (peso/volume) dos rodolitos é justificada pelas
diferenças no grau de compactação do carbonato de cálcio e existência de ramificações,
reentrâncias, cavidades e protuberâncias nos rodolitos. Nos rodolitos de Abrolhos foram
encontrados os gêneros de algas calcárias incrustantes Lithoporella, Peyssonnelia e
Mesophyllum e nos rodolitos do ES foram encontrados Spongites, Peyssonnelia,
Lithophyllum, Mesophyllum e Lithothamnium. Outros organismos tais como, briozoários,
foraminíferos, fragmentos de corais, conchas de moluscos e balanídeos, tubos de
serpulídeos e espículas de esponjas contribuem para a composição dos rodolitos. Datações
com 14C mostraram que rodolitos coletados na Plataforma de Abrolhos apresentam idade
milenar, chegando há mais de 7000 anos de existência, e que seu crescimento, assim como
nos rodolitos do ES fundo, não foi contínuo. A taxa de crescimento média anual para algas
calcárias formadoras de rodolitos é de 1 mm.ano-1. Na parede celular da alga calcária
Lithothamnium crispatum cristais de calcita são orientados perpendicularmente a membrana
da célula na região da parede celular secundária, onde são também mais densos em relação à
região intercelular da parede celular, onde estão orientados tangencialmente à superfície da
VIII
célula. Nesta região os cristais são separados por maior quantidade de matéria orgânica, a
qual apresenta as mesmas orientações dos cristais na parede celular. Estas observações
sugerem que os polissacarídeos da parede celular possam funcionar como arcabouço
estrutural para o crescimento dos cristais em L. crispatum. Experimentos de mineralização in
vitro mostraram que a formação de cristais de calcita sobre polissacarídeos insolúveis da
parede celular de algas calcificadoras, depende da prévia ligação destes com polissacarídeos
solúveis. A estrutura e composição do arcabouço são essenciais para a determinação da
morfologia e orientação dos cristais de calcita.