Os objetivos deste trabalho foram determinar frequência e características de
polimorfismo celular em isolados clínicos de Cryptococcus spp. e utilizar novo
método de inóculo individualizado para teste de suscetibilidade a antifúngicos
(TSA) utilizando isolados de pacientes hospitalizados. O estudo de polimorfismo
analisou 112 isolados de C. neoformans (Cn) e 65 de C. gattii (Cg), empregando
microscopia ótica e microscopia eletrônica de transmissão (MET), análise de
melanização, TSA a fluconazol (FCZ) e anfotericina B (AmB) por E-test® e curvas
de morte (Time Kill Curves, TK) para AmB, tipagem molecular e mating-type
(MAT). O estudo do novo método empregou a carga fúngica de 6 pacientes em
suas amostras de líquido cefalorraquidiano (LCR) no momento do diagnóstico,
7°dia e 14°dia de terapia antifúngica para CSNC. As cepas foram classificadas
segundo tipo molecular e MAT, TSA com FCZ e AMB e teste de combinação por
tabuleiro do xadrez. A frequência de polimorfismo celular foi baixa (4%;7/177),
mas nunca antes relatada em isolados de micoteca. Foi inédito o encontro de
polimorfismo em isolados de sangue, indicando a facilidade de disseminação de
células atípicas pela corrente sanguínea, assim como em isolado de LCR. Todos
os fenótipos polimórficos apresentavam células titãs (100%; 7/7) e, em menor
porcentagem, pseudohifas (43%; 3/7). O fenômeno de polimorfismo parece ser
exclusivo de Cn, desde que não foi observado em Cg. A espessura da parede das
células titãs apresentou a mesma variação (350 nm a 900 nm) em relação às
células regulares. Foi observada baixa melanização em 71,4% (5/7) dos isolados
polimórficos, dois isolados apresentaram padrão misto de melanização. Todos os
isolados com células regulares apresentaram alta melanização. Baixa
suscetibilidade (MIC > 8 mg/L) foi observada em quase metade dos isolados com
células titãs, indicando que polimorfismo possa ter relação com resistência a FCZ.
O novo método de TSA com inóculo individualizado não pode discriminar melhor a
suscetibilidade a FCZ e AmB, em relação ao método tradicional de referência.
Mesmo com o novo método, não foi observada relação entre valor de MIC e
evolução clínica; foi possível determinar a dose in vitro, clinicamente, relevante de
AmB. AmB foi totalmente eficaz para inibir, mas não para matar isolados clínicos
polimórficos de Cn; TK oferece informação da dinâmica da ação da AmB sobre
Cn e, por isso, essa técnica foi relevante, em relação a TSA por MIC. A interação
in vitro entre 5-fluorcitosina e AmB resultou em indiferença ou antagonismo, na
maioria dos isolados aumentando a controvérsia já existente sobre a correlação
clínico-laboratorial do método do tabuleiro do xadrez com inóculo individualizado.
O tipo molecular e MAT da maioria dos fenótipos, polimórficos e regulares, foi Cn
VNI MATalfa, com baixa frequencia de VNII MATalfa, seguindo a tendência global
citada na literatura da América Latina.