As formas farmacêuticas sólidas orais de liberação modificada (FFSOLM) são desenvolvidas com a finalidade de liberar o fármaco gradualmente por um longo intervalo de tempo, reduzindo, desta forma, as oscilações na concentração plasmática do fármaco. A utilização de silicatos lamelares na produção de nanossistemas que visam modificar a liberação de moléculas farmacologicamente ativas é amplamente estudada e seu uso oferece diversas vantagens, como por exemplo o baixo custo de produção, a elevada estabilidade e facilidade de preparação. Dentre os fármacos alvos de estudos em FFSOLM pode-se citar a bromoprida (BMP), fármaco de baixa solubilidade e elevada permeabilidade segundo a classificação biofarmacêutica de Amidon, que tem como mecanismo de ação o bloqueio de receptores D2 centrais e periféricos, resultando nos efeitos procinético e antiemético. O trabalho teve como objetivos o preparo e a caracterização de nanossistemas lamelares híbridos de BMP utilizando a montmorilonita (MMT) e silicatos lamelares organomodificados, bem como a avaliação da sua utilização em formulações orais de liberação modificada sob a forma de cápsulas. Primeiramente foi realizada a avaliação da etapa de pré-tratamento da MMT com aplicação de energia ultrassônica (EUS), onde foi verificado que a utilização de EUS não levou à delaminação do silicato lamelar nas condições testadas. Foram produzidos complexos de inclusão da BMP com a MMT e com as organoargilas Viscogel S4® (VS4), Viscogel S7® (VS7) e Viscogel B8® (VB8), utilizando as proporções de 90 mEq BMP / 100 g argila, 150 mEq BMP / 100 g argila e 180 mEq BMP / 100 g argila e os tempos reacionais de 15 e 30 minutos, 1 hora, 24, 48 e 72 horas de agitação magnética. Todos os materiais produzidos foram caracterizados através do rendimento do processo e por difração de raios-x. O material produzido com a proporção de 150 mEq BMP / 100 g MMT e com 30 minutos de agitação magnética, que apresentou 20,5 Å de espaço interlamelar e 170,1 mg de BMP / g incluso foi caracterizado por infravermelho por transformada de Fourier (IV-TF), análise termogravimétrica (ATG) e análise calorimétrica exploratória diferencial (DSC), utilizadas como técnicas confirmatórias do processo de intercalação. Quanto aos materiais produzidos com as argilas organofílicas não houve indício de intercalação do fármaco. Foram produzidas quatro formulações orais sob a forma de cápsulas gelatinosas duras contendo os inclusos de BMP-MMT e caracterizadas através de peso médio, volume aparente e doseamento do ativo. As formulações produzidas não se mostraram semelhantes ao medicamento comparador com relação aos valores de fator de diferença (f1) e semelhança (f2). Entretanto, através da análise dos perfis e da cinética de liberação das formulações em meio de HCl 0,01 N e tampão fosfato de potássio monobásico pH 6,8 pode ser observado que é possível utilizar os inclusos de MMT como matrizes de liberação para a BMP, bem como modificar a cinética de liberação através da escolha dos excipientes utilizados como agentes moduladores de liberação de fármacos.