1. RESUMO
A predação pode alterar composição, riqueza e abundância de comunidades incrustantes marinhas. No entanto diversos fatores como a identidade, o tamanho e as preferencias alimentares dos predadores assim como a vulnerabilidade, o estágio de desenvolvimento e a intensidade do recrutamento de presas devem afetar as consequências da predação sobre a diversidade biológica. Dessa forma, tivemos como objetivo compreender como o tamanho dos predadores e a pressão e composição do recrutamento alteram os padrões da diversidade marinha bentônica. Para isso, desenvolvemos dois experimentos no Yacht Clube Ilha Bela (YCI), em Ilha Bela, SP. Um primeiro controlando o tamanho dos predadores que acessam comunidades bentônicas desenvolvidas em placas de PVC, através do uso de gaiolas de exclusão de malhas diferentes. Um segundo experimento no qual quantificamos a intensidade e composição do recrutamento e a sobrevivência dos recrutas, sujeitos ou não à predação, em três momentos distintos e em duas localidades próximas, porém distintas, no YCI: o quebra-mar e a porção interna da marina. Enquanto o quebra-mar representa condições semelhantes à encontradas nos costões rochosos da região, a porção interna apresenta menor turbulência e maior acúmulo de sedimento e poluentes. Desta forma, também descrevemos como os efeitos da alterações antrópicas na costa afetam a organização da comunidade incrustante. Os resultados obtidos corroboram a predação como um forte fator estruturador da diversidade marinha alterando a composição mas não aumentando a riqueza de espécies. Pequenos predadores afetam somente a quantidade de espaço vazio no início do desenvolvimento das comunidades, retardando o processo de colonização mas esses efeitos são diluídos ao longo do tempo. Recrutas de ascídias são o principal alvo da predação por uma grande variedade de predadores, e sua remoção no início do desenvolvimento da comunidade reduz a monopolização do substrato por esses organismos que são conhecidos bons competidores. Dessa forma, predação altera as relações hierárquicas de competição dos componentes da comunidade facilitando a ocorrência de briozoários. A composição e intensidade do recrutamento bem como variações na pressão de predação entre locais da marina influenciaram a dinâmica das comunidades. No interior da marina, o recrutamento de briozoários, principalmente Schizoporela errata é mais intenso enquanto no quebramar ascídias, principalmente Didemnum perlucidum, e serpulideos recrutaram em maior abundância. Essa diferença no recrutamento entre locais foi minimizada pela alta predação de ascídias no quebramar. Os padrões das comunidades variaram ao longo do tempo e do espaço, de forma que durante a primeira réplica temporal a predação foi importante para determinar a estrutura da comunidade tanto no quebramar quando no interior da marina, na segunda réplica não apresentou qualquer importância, enquanto na terceira réplica afetou a comunidade somente no quebramar. Ainda assim, ao longo de todo estudo quando a predação afetou a organização das comunidades, esta favoreceu a ocorrência de briozoários removendo ascídias. Picos de recrutamento de determinadas espécies como Herdmania pallida, também alteraram a estrutura das comunidades, sendo que em alguns momentos as espécies dominantes, após 3 meses de experimento, variaram em função do recrutamento inicial. Dessa forma, demostramos que os efeitos da predação na organização da comunidade não podem ser generalizados, variando no tempo, o que pode ser resultados do diferente recrutamento de espécies. Demonstramos ainda que experimentos não replicados temporalmente podem resultar em generalizações incorretas e que construções costeiras alteram tanto o recrutamento quanto a pressão de predação e, portanto, devem afetar a diversidade marinha costeira.