As reações adversas a medicamentos (RAM) constituem um problema de saúde
pública por sua influência sobre as taxas de morbidade e mortalidade e sobre os
custos de saúde. Neste estudo observacional retrospectivo buscou-se caracterizar
as RAM ocorridas em adultos hospitalizados com doenças infecciosas no Hospital
Universitário de Brasília e determinar a frequência, distribuição e classificação das
suspeitas dessas reações, identificar a conduta adotada para seu manejo e a
evolução clínica dos pacientes, descrever os medicamentos envolvidos nas reações,
estabelecer relações de causalidade e identificar os fatores predisponentes às
suspeitas de RAM. Foram incluídos pacientes com doenças infecciosas
hospitalizados na clínica médica do hospital no período de março de 2013 a março
de 2014. Para diagnóstico de RAM, adotou-se a definição proposta pela
Organização Mundial da Saúde (OMS). As reações foram identificadas nos
formulários de notificação de suspeita de reações adversas e nas fichas de
seguimento farmacoterapêutico e prontuários dos pacientes. Adicionalmente, foram
revisados os resultados laboratoriais, as prescrições e os relatórios de dispensação
de antirretrovirais, quando aplicáveis, para complementação das informações de uso
de medicamentos. As descrições das suspeitas de RAM foram harmonizadas de
acordo com a Terminologia de Reações Adversas da OMS. As suspeitas de reações
foram classificadas, de acordo com Rawlins e Thompson, em tipo A e tipo B.
Utilizou-se o algoritmo de Naranjo para estabelecer causalidades. Os medicamentos
envolvidos nas suspeitas de RAM foram categorizados segundo a classificação
Anatomical Therapeutic Chemical (ATC). Realizou-se análise estatística bivariada
para comparar pacientes com RAM e sem RAM quanto a idade, sexo, diagnóstico
de aids, terapia antirretroviral (TARV), tempo de hospitalização, reinternação,
mudança de nível de complexidade de tratamento, presença de alergia e óbito.
Empregou-se a razão de chances (odds ratio, OR) como medida de associação,
com intervalo de confiança de 95% e grau de significância de 5% (p < 0,05). Dos 113
pacientes incluídos no estudo, 13 (11,5%) apresentaram 22 suspeitas de RAM (1,7
por paciente acometido). Entre os que tiveram RAM, houve predomínio de homens
(9, ou 69%), idade inferior a 60 anos (12, ou 92%) e diagnóstico negativo de
HIV/aids (9, ou 69%). Em sua maior parte, as reações suspeitas foram
dermatológicas (7, ou 31%), hepatobiliares (4, ou 18%) e gastrintestinais (4, ou
18%). Em 21 (95%) dos casos, as RAM foram do tipo A (reações farmacológicas
previsíveis). Houve envolvimento de medicamentos anti-infecciosos sistêmicos em
16 reações (72%). A relação causal entre a suspeita de RAM e o medicamento foi
classificada como provável em seis (27%) dos eventos, possível em 15 (68%) e
duvidosa em um (5%). Em 11 (84%) dos pacientes com suspeita de RAM, houve
recuperação sem sequelas. Dois (16%) morreram em decorrência de qualquer
causa. Os pacientes que morreram apresentaram chance aproximadamente nove
vezes maior de ter tido RAM (OR = 8,91; IC = 1,14-69,67; p = 0,06). O tempo de
hospitalização foi significativamente maior (p = 0,02) em pacientes com suspeita de
RAM (mediana de 19 dias, intervalo de 2 a 77 dias) do que naqueles que não
apresentaram RAM (mediana de 9 dias, intervalo de 2 a 81 dias). Idade (p = 0,17),
sexo (OR = 1,1; IC = 0,24-2,5; p = 0,65), presença de aids (OR = 0,77; IC = 0,24-2,5;
p = 0,65), uso de TARV (OR = 0,51; IC = 0,13-1,98; p = 0,25), reinternação (OR =
2,43; IC = 0,58-10,19; p = 0,2) e mudança de nível de complexidade de tratamento
(OR = 2,2; IC = 0,53-9,14; p = 0,24) não se revelaram como fatores
significativamente predisponentes a RAM. Nenhum dos pacientes que
desenvolveram RAM tinha histórico de alergia. Identificar RAM e determinar sua
causalidade podem contribuir para seu manejo mais adequado e influenciar o tempo
de hospitalização. São ferramentas essenciais para monitorar a segurança do
paciente e melhorar a qualidade do cuidado em saúde.