Esta dissertação tem o objetivo de analisar o inumano (LYOTARD, 1990) em Metropolis (ALE, 1927), Tempos Modernos (EUA, 1936) e Cosmopolis (CAN, FRA, POR, ITA, 2012) e sua relação com a tecnologia. As três obras estão interligadas pelo inumano, tanto aquele que se refere ao chamado desenvolvimento (ou progresso) técnico e econômico, quanto o outro inumano, individual, que está presente em nossa infância e nos acompanha na fase adulta pela recorrência da memória (LYOTARD, 1990). Portanto, o tempo e a tecnologia são dois fatores fundamentais na formação de nossa humanidade contemporânea, e os filmes Metropolis e Tempos Modernos, de Fritz Lang e Charles Chaplin, respectivamente, representam o marco de uma nova humanidade no século XX, cada vez mais atenta a velocidade, ao progresso tecnológico. Estes filmes criticam a chamada Modernidade e seu projeto de conforto, segurança e felicidade para todos graças à tecnologia. Cosmopolis, de David Cronenberg, atualiza a discussão mostrando onde estamos. Metropolis imagina as cidades do futuro, divididas entre os privilegiados e os operários. Tempos Modernos critica a industrialização, o fordismo numa cidade do presente, e pede outro futuro mais humano. Já Cosmopolis é o futuro realizado, agora, o caos, o momento em que o dinheiro foi tão acumulado pela ideia de “tempo é dinheiro”, que agora o capital “vende” o tempo em seus produtos tecnológicos. Afinal, pensando bem, o que um smartphone oferece para nós? Os humanos foram arrastados, desde a época dos dois primeiros filmes (período entre as guerras), para um desenvolvimento inumano, em que não há mais alternativa humana, política e econômica para este processo de aceleração do tempo. A “vida administrada” (pelos homens-corporações, pelo sistema financeiro) anula o tempo, a memória, o corpo, sempre ao tentar programá-los. Uma solução seria voltar para o outro inumano (LYOTARD, 1990), nós mesmos, nossas memórias, recuperar nossa educação não-pronta, executada na velocidade lenta que precisa ter para digerir e vivenciar experiências e emoções. As personagens destes três filmes buscam a solução para a velocidade. Querem sua inumanidade (a infância) de volta. É disso que se trata este trabalho. Uma reflexão sobre nossa quase humanidade e nossa quase “maquinicidade” nesta sociedade contemporânea.