O consumo voluntário de ração é um processo que integra o sistema nervoso central e os tecidos periféricos do organismo, sendo influenciado basicamente por fatores inerentes aos animais como o sexo, a idade, e alguns neuropeptídios relacionados ao consumo de ração; e fatores externos, como a temperatura ambiental. Condições
ambientais com altas temperaturas às quais as aves são expostas, e a maior deposição de gordura em detrimento à deposição de carne magra, são fatores que afetam o desenvolvimento dos animais. Nesse sentido, com este trabalho os nossos objetivos foram avaliar o efeito do sexo, da idade, do estresse térmico agudo e da suplementação
de metionina sobre o desempenho, expressão de genes relacionados ao consumo, envolvidos no metabolismo lipídico, e genes relacionados ao sistema antioxidante em frangos. Para isto, no primeiro experimento, frangos de corte machos e fêmeas com 42 dias de idade, recebendo dieta formulada para atender as necessidades nutricionais, foram mantidos em conforto térmico ou expostos ao estresse térmico agudo (38˚C por 24 horas, iniciando aos 41 dias de idade). No segundo experimento, frangos de corte machos e fêmeas, de 1-21 e 22-42 dias de idade, recebendo dietas formuladas para atender as necessidades nutricionais, foram mantidos em ambiente com temperatura de conforto térmico. No terceiro experimento, frangos de corte de 1-21 e de 22-42 dias de idade foram divididos em dois tratamentos referentes à suplementação de metionina: sem suplementação de metionina (MD) e nível recomendado de metionina (MS). Um grupo de animais foi mantido em conforto térmico e o outro grupo de animais foi exposto ao estresse térmico agudo (38˚C por 24 horas, iniciando aos 20 ou aos 41 dias de idade, dependendo da fase experimental avaliada). Nestes experimentos, foram avaliados o desempenho e a expressão dos genes: neuropeptídeo Y (NPY), proteína quinase ativada por AMP subunidade α-1 (AMPKα-1), pró-ópiomelanocortina (POMC), grelina (GHRL), proteína quinase hepática B1 (LKB1), acetil-CoA-carboxilase (ACC),xv ácido graxo sintase (FAS), adiponectina (ADIPOQ), apolipoproteína A-I (APOA-I), apolipoproteína B (APOB), superóxido dismutase (SOD), tioredoxina (TRx), tioredoxina
redutase (TRxR1), metionina sulfóxido redutase A (MsrA), catepsina L2 (CTSL2), além de alguns marcadores biológicos do estresse oxidativo. No primeiro trabalho, observamos que aves em estresse térmico reduziram o consumo de ração e apresentaram perda de peso significativa. Observamos ainda que machos apresentaram
maior consumo de ração do que as fêmeas. O maior valor de expressão do gene NPY foi observado em machos em ambiente de conforto, e o menor valor em machos submetidos ao estresse térmico. Machos submetidos ao estresse térmico apresentaram maior valor de expressão do gene AMPKα-1. Com relação à expressão do gene POMC, comparando animais que permaneceram em conforto térmico, observamos que fêmeas apresentaram maior expressão deste gene. Machos apresentaram maior nível de expressão do gene LKB1. Não foi observado nenhum efeito significativo sobre o gene da grelina (GHRL). Com relação ao metabolismo lipídico, comparando aves de 42 dias de idade, observamos que machos apresentaram maior consumo. Maior ganho de peso foi observado em machos e nos animais com 42 dias de idade. Fêmeas com 21 dias de idade apresentaram maior valor de expressão dos genes ACC, LKB1 e ADIPOQ. Em relação ao gene FAS, maior nível de expressão foi observado em machos com 21 dias de idade. Maior expressão do gene AMPKα-1 foi observada nos machos e em animais com 21 dias de idade. A respeito da expressão do gene APOB, observamos maior
expressão em fêmeas, e em aves com 42 dias de idade. A expressão do gene APOA-I foi maior em animais com 21 dias de idade. No experimento em que avaliamos os efeitos da suplementação da metionina e do estresse calórico agudo, observamos que o estresse térmico aumentou a temperatura corporal e reduziu o consumo de ração e o ganho de
peso dos animais, entretanto animais na fase de crescimento sob condição de conforto térmico recebendo dieta MS apresentaram maior consumo de ração. Na fase de 1-21 e de 22-42 dias observamos que aves em estresse térmico recebendo dieta MD apresentaram maior valor de atividade da alanina aminotransferase (ALT). Na fase de 1-
21 dias observamos que o conteúdo de creatinina foi maior nas aves em conforto térmico recebendo dieta MD. Já o estresse térmico reduziu o conteúdo de ácido úrico, a atividade da enzima creatina quinase (CK), e aumentou a expressão do gene SOD. A suplementação de metionina, por sua vez, aumentou o conteúdo de ácido úrico e
também a expressão do gene SOD. Em animais estressados pelo calor recebendo dieta MS, observamos maior valor de expressão dos genes TRxR1 e MsrA. Na fase de 22-42 xvi dias, observamos que aves expostas ao estresse térmico apresentaram maior valor de expressão dos genes SOD, TRxR1 e MrsA. Observamos menor atividade enzimática da
creatina quinase (CK), maior atividade da aspartato aminotransferase (AST), maior conteúdo de creatinina plasmática e menor conteúdo de ácido úrico em animais estressados pelo calor. Aves recebendo dieta MS apresentaram maior valor de expressão dos genes SOD, TRxR1 e MsrA, e também menor valor de atividade da AST, maior
valor de atividade da CK, e menor conteúdo de creatinina. O contéudo de homocisteína foi menor em aves estressadas pelo calor em ambas as fases avaliadas. Nossos resultados de forma conjunta nos permitem sugerir que alguns genes hipotalâmicos podem estar envolvidos nas diferenças observadas no consumo voluntário de ração
entre animais de diferentes sexos e expostos a diferentes condições ambientais, e que o controle do consumo ocorre em função do balanço entre a ação de substâncias orexígenas e anorexígenas. Ainda contribui para caracterizar alguns dos mecanismos que diferenciam machos de fêmeas, e animais de 21 de animais de 42 dias no que se
refere ao metabolismo lipídico. A maior deposição de gordura geralmente observada em fêmeas e em animais mais velhos pode decorrer da maior expressão de genes relacionados à síntese de lipídeos como a ACC, FAS e APOB. E animais que necessitam de maior aporte energético devido à maior taxa metabólica podem lançar mão de vias relacionadas à maior oxidação lipídica através da maior expressão dos genes LKB1, AMPKα-1, e APOA-I. Suporta-se ainda a hipótese de que uma dieta suplementada com metionina pode atenuar os efeitos do estresse térmico sofridos pelos animais, por aumentar a capacidade antioxidante e por agir em via metabólica que promove o
crescimento dos frangos.