A composição proximal, teores de minerais e composições de ácidos graxos de
diferentes partes (cascas, polpas e sementes) de 10 frutas nativas da Amazônia foram
caracterizadas quimicamente. As cascas e polpas apresentaram altos teores de
umidade (43,13 a 94,03%), enquanto as sementes exibiram maiores níveis de cinzas
totais, proteína bruta total e carboidratos totais (0,55-3,35%, 1,55-15,34% e 17,78-
65,64%, respectivamente). Altos níveis de lipídios totais (14,40 e 34,70%) foram
encontrados no piquiá (polpa e amêndoa, respectivamente), nas cascas e polpas das
duas variedades de umari (14,40-17,04% e 17,01-18,24%, respectivamente), polpa do
uxi (20,48%) e semente do biribá (16,04%). Ampla faixa de conteúdo de minerais foi
detectada (Mn: 0,32-11,96 mg/100 g; Zn: 0,39-4,75 mg/100 g; Cu: 0,52-16,21 mg/100 g;
Fe: 0,91-9,88 mg/100 g; Mg: 30,02-219,44 mg/100 g; Na: 2,76-350,56 mg/100 g; P: 4,52-
382,64 mg/100 g). Os mais altos níveis de minerais foram encontrados nas amostras de
polpa do bacuri-de-espinho (Mn, Zn), semente do cubiu P (Cu), casca externa do piquiá
(Fe), casca do cubiu G (Mg), todas as partes do pajurá (Na) e amêndoa do piquiá (P).
Na análise da composição em ácidos graxos foram identificados e quantificados 32
ácidos graxos. Os níveis mais elevados de ácido palmítico (16:0) e ácido oleico (18:1n-
9) foram encontrados nas cascas e polpas das duas variedades de umari (R e A) e uxi
e na polpa e amêndoa de piquiá (1,13-16,24 g/100 g e 3,95-13,51 g/100 g,
respectivamente), enquanto os níveis mais elevados de ácido linoleico (18:2n-6) e ácido
α-linolênico (18:3n-3) foram encontrados, respectivamente, na semente do biribá (4,40
g/100 g) e polpa do uxi (398,55 mg/100 g). Todas as amostras de cascas e polpas,
exceto a polpa do piquiá, apresentaram valores para o índice n-6/n-3 inferiores a 4. As
amostras apresentaram bons níveis de composição proximal e minerais, porém
variados, sendo cada uma delas rica em pelo menos um nutriente. Os ácidos graxos
monoinsaturados e ácidos graxos poli-insaturados foram encontrados em
concentrações mais elevadas na maioria das amostras de sementes. Cascas e polpas
apresentaram boa relação n-6/n-3 e podem ser consideradas benéficas para a saúde
humana.
Entre o grande número de frutas não estudadas cientificamente no bioma da Amazônia,
a Couepia bracteosa (pajurá) atua como uma fonte interessante de compostos bioativos,
como os compostos fenólicos e carotenoides, que podem ser utilizados para proteger a
saúde humana contra os danos oxidativos. Pela primeira vez, os compostos fenólicos e
carotenoides em extratos etanólicos obtidos a partir da polpa, casca e semente de frutos
do pajurá são relatados, bem como as suas capacidades de eliminação, in vitro, de
algumas espécies reativas de oxigênio (ERO) e espécies reativas de nitrogênio (ERN)
de importância fisiológica. O extrato da casca apresentou os maiores conteúdos de
compostos fenólicos e carotenoides (16.621 μg/g e 328 μg/g de extrato, base seca,
respectivamente), seguidos do conteúdo de compostos fenólico no extrato da semente
(11.443 μg/g) e conteúdo de carotenoides na polpa (130 μg/g). Os principais compostos
fenólicos encontrados na casca foram dois isômeros de acacetina sulfato (um grupo
metoxi e dois grupos OH) (≈ 71%). No entanto, apenas as sementes apresentaram
sulfato de apigenina (três grupos OH), fração do fruto em que este era o composto
principal (≈ 44%). O alto teor de sulfato de apigenina pode explicar porque o extrato da
semente teve a maior eficiência de eliminação contra todas as ERO e ERN testadas entre os extratos do pajurá estudados. Quanto aos carotenoides, o composto all-transneocromo
(≈ 17%) e all-trans-β-caroteno (≈ 16%) foram os principais carotenoides
encontrados nos extratos da polpa, enquanto all-trans-luteína (≈ 44%) foi o mais
prevalente no extrato da casca e all-trans-α-caroteno (≈ 32%) e all-trans-β-caroteno (≈
29%) foram os mais importantes nos extratos de sementes.
A Quararibea cordata (sapota), uma fruta amazônica inexplorada, foi investigada quanto
à identificação de compostos fenólicos e carotenoides e a capacidade de eliminação de
seus extratos de polpa, casca e semente contra ERO e ERN. O principal composto
fenólico encontrado no extrato da polpa foi a epicatequina (320 μg/g de extrato, base
seca), enquanto o dímero de proantocianidina tipo A foi o principal nos extratos de
semente (18.714 μg/g) e casca (623 μg/g). Em relação à composição de carotenoides,
all-trans-zeaxantina (2,5-42 μg/g), all-trans-luteína (0,39-8,2 μg/g) e all-trans-β-caroteno
(2,2-37 μg/g) foram os principais compostos encontrados em todos os extratos. O
extrato de semente, que apresentou o maior teor de compostos fenólicos e carotenoides
(23.501 μg/g e 143 μg/g, respectivamente), foi o eliminador mais eficaz contra todas as
ERN (IC50 de 19,5-37,6 μg/mL), enquanto o extrato da casca apresentou a maior
eficiência contra as ERO, especialmente HOCl (4,8 μg/mL). Assim, o fruto da sapota
pode apresentar-se como um excelente potencial para ser usado como fonte de
compostos bioativos com elevada capacidade antioxidante.