As algas marinhas são fonte de diversos compostos biologicamente ativos com potencial ação terapêutica, como os polissacarídeos sulfatados (PLS). Estes estão envolvidos em vários processos celulares e são reconhecidos por apresentarem um grande número de atividades biológicas, incluindo ação moduladora gastrointestinal. Considerando que a diarreia é a manifestação clínica mais frequente relacionada com doenças gastrointestinais, sendo responsável por cerca de milhões de mortes anualmente, principalmente entre crianças menores de 5 anos de idade, e que atualmente não existe um tratamento específico destinado a esse problema clínico, o objetivo do presente estudo foi avaliar a eficácia antidiarreica do PLS extraído na alga marinha vermelha H. musciformis utilizando distintos modelos experimentais, bem como avaliar os possíveis mecanismos envolvidos neste efeito. Os procedimentos e protocolos experimentais utilizados nesse estudo foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa Animal (CEPA) da Universidade Federal do Ceará (Protocolo n° 11/2013). Inicialmente, o efeito antidiarreico do PLS foi avaliado no modelo de diarreia aguda e enteropooling induzido por óleo de rícino. Dessa forma, ratos wistar (150-180 g) foram pré-tratados com salina (2,5 ml/kg, v. o.), ou loperamida (5 mg/kg, v. o.), ou PLS (10, 30 e 90 mg/kg, v. o.). Uma hora depois os ratos receberam óleo de rícino (10 ml/kg, v. o.). Após 3 horas foi avaliada a severidade da diarreia, o número total de fezes, o número total de fezes diarreicas e a medição do volume do conteúdo intestinal (enteropooling). Além disso, a partir da indução da diarreia com óleo de rícino, foi avaliada a atividade da proteína Na+ K+ ATPase presente no intestino delgado de camundongos (swiss; 25-30g) mensurada partir da hidrólise do ATP na presença de cátions apropriados. Em outros grupos experimentais, com camundongos, foi realizado o teste de motilidade intestinal, utilizando 0,2 ml de carvão (suspensão de 10% de carvão em 5% de goma arábica, v. o.) como marcador da distância percorrida ao longo do intestino. Para verificar um possível envolvimento de mecanismo opióide e colinérgico na atividade do PLS sobre o trânsito intestinal foi utilizado naloxona (2 mg/kg, s. c.; antagonista opioide) e betanecol (3 mg/kg, i. p.; agoista colinérgico), respectivamente. Para o estudo do esvaziamento gástrico, outro grupo experimental (camundongos) foi tratado, por via oral, com PLS (90 mg/kg) e uma hora depois receberam uma solução glicosada (5%) contendo vermelho de fenol (0,75 mg/ml). Após 20 minutos, os animais foram eutanasiados e o esvaziamento gástrico foi avaliado por técnica de espectrofotometria. O efeito antidiarreico do PLS ainda foi analisado pelo modelo de diarreia inflamatória induzida por prostaglandina do subtipo E2 (PGE2), em ratos. Assim, os animais foram pré-tratados com PLS (90 mg/kg, v. o.) e imediatamente após a administração, PGE2 (100 µg/kg, v. o.) foi administrada. Após 30 minutos, os animais foram eutanasiados e o volume do contéudo intestinal foi mensurado. Foi utilizado o modelo de secreção intestinal induzida pela toxina da cólera (TC) (1 µg/alça) em camundongos para caracterizar a atividade antissecretória do PLS. A seguir, foi determinada a concentração de íons cloreto no fluido intestinal acumulado em cada alça isolada, bem como foi avaliado o feito do PLS na absorção intestinal. Além disso, a capacidade de ligação do PLS ao receptor monossialogangliosídeo- GM1 foi analisada por meio da técnica de ELISA. O pré-tratamento com todas as doses do PLS (10, 30 e 90 mg/kg) inibiu significativamente (P < 0,05) a diarreia induzida por óleo de rícino, com redução do número total de fezes, número total de fezes diarreicas e severidade da diarreia. A dose de 90 mg/kg reduziu significativamente (P < 0,05) o efeito antidiarreico no enteropooling induzido por óleo de rícino, aumentou (P < 0,05) a atividade da proteína Na+ K+ ATPase no intestino delgado, reduziu (P < 0,01) o trânsito intestinal, possivelmente por meio da ativação de receptores colinérgicos, além de inibir (P < 0,05) o enteropooling induzido por PGE2. Contudo, o PLS não mostrou influência no esvaziamento gástrico. Além disso, a secreção de fluido e os níveis de cloreto presentes no conteúdo intestinal induzidos pela TC, foram reduzidos significativamente (P < 0,001) nos animais pré-tratados com PLS, provavelmente devido a interação com o receptor GM1. Em conclusão, os resultados sugerem que o PLS exerce seu efeito antidiarreico devido a capacidade em aumentar a atividade de Na+ K+ ATPase no intestino delgado, inibir a motilidade intestinal associada a uma possível atividade anticolinérgica, bem como bloquear a ligação TC-GM1.