Esta pesquisa versa sobre a festa da Cavalaria Antoniana que acontece anualmente no
mês de junho, na cidade de Jaguariúna-SP, entendida como expressão típica do
catolicismo popular no interior paulista. Constitui-se como trabalho de Ciências da
Religião, com enfoque sociológico no tratamento do objeto, mas de caráter
interdisciplinar, dialogando com outras disciplinas, sobretudo a História e a Antropologia.
A pesquisa baseou-se em revisão de bibliografia especializada partindo de obras de
autores que trabalham a temática do catolicismo popular. Por outro lado, utilizou-se da
observação e da participação indireta no planejamento e execução do evento durante os
anos de 2014 e 2015. O trabalho tem por objetivo compreender as transformações que
ocorreram com essa tradição e entender de que maneira ela sobreviveu e se sustenta
dentro de um contexto social, secularizado, atraindo milhares de participantes. No
primeiro capítulo, faz-se uma revisão histórica sobre a formação das características do
catolicismo popular no Brasil. Em seguida, no segundo capítulo, identifica-se que, por
conta do desenvolvimento da modernidade secular, a Igreja Católica procurou reagir
através da elaboração de um projeto de reforma e padronização da experiência religiosa,
no contexto brasileiro, conhecido como romanização. Este por sua vez serviu para
distanciar e fortalecer as práticas do catolicismo popular em órbita própria e paralela à
oficial. O terceiro capítulo focou no surgimento da Cavalaria, entendo-a como uma
expressão própria de catolicismo popular e que logo foi suspensa pela autoridade
religiosa da localidade. No último capítulo, verificou-se que, após sua suspensão, houve o
fortalecimento da tradição. Mais tarde, acontece o retorno da Cavalaria que, sofrendo
novamente interferências externas dessa pretensa sociedade secularizada, passa por
outro processo de transformação, reconfigurando a experiência religiosa da qual é
portadora, chegando ao formato que conserva até os dias de hoje. A pesquisa entende
que, hoje, a Cavalaria não tem a preocupação de garantir práticas tradicionais de
expressão de crença, mas, ao contrário, dá liberdade para que os participantes
expressem a devoção a Santo Antônio, cada um a seu modo. No fundo, ela se
caracteriza muito mais pela oferta da aparência do que propriamente pela experiência de
práticas devocionais. O evento em si pode conter essa dimensão religiosa sem, contudo,
sentir-se obrigado a propiciar mediações para sua prática, pelo menos, naquele formato
tradicional que se praticou até sua total transformação.