O estudo teve como objetivo avaliar as alterações da secreção láctea de cabras com mastite mediante o uso do teste da caneca de fundo escuro, California Mastitis Test (CMT), contagem de células somáticas (CCS) e perfil microbiológico, bem como determinar o perfil bioquímico, em especial de proteínas de fase aguda, do soro sanguíneo e soro lácteo de cabras com mastite clínica ou subclínica, de ocorrência natural. Foram constituídos três grupos experimentais compostos de 30 metades mamárias de cabras sadias, com secreção láctea negativa na prova da caneca de fundo escuro, CMT e no exame microbiológico (grupo controle - G1), 30 metades mamárias com secreção láctea negativa ao teste da caneca de fundo escuro, reação moderada (2+) ou intensa (3+) no CMT e positividade no exame microbiológico (Grupo mastite subclínica - G2) e 12 metades mamárias com secreção láctea positiva na prova da caneca de fundo escuro e no exame microbiológico (grupo mastite clínica – G3). Após antissepsia dos tetos foram colhidas amostras de leite para CCS, cultura microbiológica e determinação do perfil bioquímico do soro lácteo, inclusive o proteinograma mediante fracionamento em gel de poliacrilamida (SDS-PAGE), e amostras de sangue venoso para determinação do perfil bioquímico sérico. A contagem automática de células somáticas (CCS) e por contagem microscopia direta foi maior nas amostras de secreção láctea das cabras com mastite subclínica (G2: 4.500.000 células/mL e 20.830.000 células/mL, respectivamente) e com mastite clínica (G3: 7.500.000 células/mL e 39.100.000 células/mL, respectivamente). Staphylococcus aureus, Staphylococcus coagulase negativa (SCN), Staphylococcus coagulase positiva (SCP), Corynebacterium spp. e Streptococcus spp. foram os microrganismos isolados nas amostras de leite das cabras do G2 e G3. As amostras de soro lácteo das cabras do G2 e G3 apresentaram maiores atividades das enzimas fosfatase alcalina (G2: 122 U/L e G3: 207 U/L) e gamaglutamiltransferase (G2: 483 U/L e G3: 571 U/L) e maiores concentrações de albumina (G2: 0,18 g/dL e G3: 0,29 g/dL), proteína total (G2: 1,50 g/dL e G3: 1,67 g/dL), cloretos (G2: 190 mEq/L e G3: 202 mEq/L), ferro (G2: 13,4 µg/dL e G3: 19,6 µg/dL), sódio (G2: 152 mMol/L e G3: 181 mMol/L), IgA (G2: 3,26 mg/dL e G3: 3,65 mg/dL), lactoferrina (G2: 111 mg/dL e G3: 127 mg/dL), IgG de cadeia pesada – IgG-CP (G2: 94,9 mg/dL e G3: 144 mg/dL), IgG de cadeia leve – IgG-CL (G2: 73,0 mg/dL e G3: 98,4 mg/dL), β-caseína (G2: 2,13 mg/dL e G3: 3,89 mg/dL) e β-lactoglobulina (G2: 693 mg/dL). As amostras de soro sanguíneo das cabras do G2 e do G3 apresentaram menores concentrações séricas de ureia (G2: 56,2 mg/dL e G3: 44,2 mg/dL) e de cloretos (G2: 110 mEq/L e G3: 109 mEq/L), e maiores concentrações de IgA (G3: 49,4 mg/dL), ceruloplasmina (G2: 30,1 mg/dL e G3: 46,9 mg/dL), transferrina (G2: 497 mg/dL), IgG-CP (G2: 1.307 mg/dL e G3: 1,152 mg/dL), IgG-CL (G2: 805 mg/dL e G3: 723 mg/dL), haptoglobina (G2: 52,5 mg/dL e G3: 40,2 mg/dL) e α1-glicoproteína ácida (G2: 37,7 mg/dL). Conclui-se que a utilização de ferramentas diagnosticas como o uso da caneca de fundo escuro, CMT e a CCS devem ser usadas em conjunto para a avaliação adequada da secreção láctea caprina e sempre que possível junto com o exame microbiológico. O S. aureus é o microorganismo mais isolado neste estudo sendo o 63,3% na secreção láctea das cabras do G2 e 75% do G3, predominando assim os agentes infecciosos contagiosos nas cabras avaliadas. O perfil bioquímico em especial de proteínas de fase aguda (PFA) do soro lácteo se mostrou melhor indicador clínico nos quadros de mastites clínica é subclínica que o perfil químico sanguíneo. Finalizando, ressalta-se que as proteínas de peso molecular 39.000 Da e 19.000 Da, foram identificadas somente no soro lácteo de cabras do G3, podendo ser considerado como um marcador de mastite clínica.