Trata-se de um estudo descritivo com dados do Sistema de Informações de Agravos de
Notificação (SINAN) objetivando analisar a magnitude da tuberculose pulmonar (TBP) em
Mato Grosso do Sul, no período de 2007-2010, considerando regiões de fronteira e não
fronteira e populações indígenas e não indígenas. Foram estimadas as taxas de incidência,
mortalidade, co-infecção com o HIV e percentual de abandono de tratamento. Na região de
fronteira, as taxas de incidência (49,1/100 mil hab.), de mortalidade (4,0/100 mil) e de
abandono do tratamento (11,3%) foram 1,6, 1,8 vezes maiores que na região não fronteiriça e
estatísticamente significativo (p<0,001) e abandono 1,5 vezes maior (p=0,013). Entre
indígenas da fronteira, as taxas de incidência (253,4/100 mil hab.) e mortalidade (11,6/100 mil
hab.) foram, respectivamente, 6,4 vezes, 3,2 vezes maiores (p< 0,001) e co-infecção por HIV
(1,9/100 mil) e (p=0,859). Para estimar os níveis de resistência às drogas selecionaram-se 789
casos de TBP notificados ao SINAN e com resultado do teste de sensibilidade às drogas anti-
TB (TSD) rifampicina, isoniazida, estreptomicina e etambutol. Analisou-se a associação entre
características clínicas, sociodemográficas, taxas, padrão e perfil de resistência. Dos
investigados, 660 (83,7%) eram sensíveis e 129 (16,3%) resistentes. Mostrou associação com
resistência: não ser caso novo (p=0001), morar na fronteira (p=0,0142 ) e alcoolismo
(p=0,0451). A resistência combinada (RC), primária (RP) e adquirida (RA) foram: 16,3%,
10,6% e 39,0%, respectivamente. As taxas de multidrogarresistência (MDR) combinada,
primária e adquirida foram: 1,8%, 0,6% e 6,3%, respectivamente. Houve associação entre
resistência e tratamento prévio (p<0,0001). Existe maior chance de resistência entre doentes
com Diabetes Melittus (DM), quando comparados aos sem DM. A comparação do padrão e
perfil de resistência entre fronteira versus não fronteira revelou superioridade na fronteira para
monorresistência primária (p=0,001).Para identificação dos genótipos do M. Tuberculosis
circulantes na região de fronteira foram analisadas 60 cepas de TBP. A caracterização pelo
Spoligotyping revelou 57 cepas com padrões distintos e 3 cepas órfãs (5,0%). A distribuição
das famílias destacou a LAM com 50%, seguido da família T (sublinhagem T1) com 23,3%,
família Haarlem (H) com 13,3%, e família X (sublinhagem X1) e família S, ambas com 1,7%.
Taxa elevada de agrupamento de 75,1% (45/60) revelou nas duas fronteiras 10 cluster pelas
subfamílias LAM9 SIT42, TI SIT53, H1 SIT47, LAM6 SIT1610, LAM3 SIT33, H3 SIT50,
LAM5 SIT1337, havendo formação de cluster (SIT47 H1) entre dois presidiários. A TBP tem
maior magnitude na região de fronteira, onde a populacão apresenta maior risco de adoecer,
morrer, abandonar o tratamento, de se infectar por uma cepa monorresistente. Indivíduos
indígenas apresentam maior risco de adoecer e morrer por TBP, a despeito do menor
abandono de tratamento, ao passo que a população não indígena apresenta maior coinfecção
por HIV e maior abandono. A taxa de qualquer resistência adquirida foi elevada enquanto a
taxa de MDR assemelhou-se às estimadas para o Brasil, recomendando-se tratamento
diretamente observado (TDO) para diminuir a resistência. A fronteira registrou maior
monorresistência primária, o que requer cultura para sintomáticos respiratórios, TSD e TDO
para todo caso diagnosticado nessa região. A endemia por TBP ocorrida na fronteira
caracterizou-se por baixa diversidade genética do M. tuberculosis predominando as famílias
LAM, T e Harleem. A despeito da elevada taxa de agrupamento e vínculo entre casos
resistentes e similar genótipo, haverá necessidade de outras técnicas moleculares para melhor
caracterização da transmissão ativa entre as diferentes populações. A propagação da TBP
nessa região evidencia insuficiência nas ações de controle.