A discussão metafísica sobre a causalidade e a identidade de eventos, no âmbito do fisicalismo, surge no contexto do colapso do behaviorismo. Porquanto os paradigmas do positivismo-lógico dominaram a filosofia, o behaviorismo dominou a psicologia. A ruptura com o positivismo é marcada pela obra de Willard V. O. Quine: a crítica aos dois dogmas do empirismo e a proposta de uma tradução radical, permitiu erguer as teses da indeterminação do significado e inescrutabilidade da referência. Como alternativa ao empirismo, Quine recorre à simplificação ontológica e ao holismo da teoria, mas com a primazia da experiência, propondo assim uma guinada rumo ao pragmatismo. Contudo, o pragmatismo de Quine era fundamentado numa perspectiva behaviorista para a aquisição de competências linguísticas, e o behaviorismo não se firmou como paradigma para a explicação da vocabulário mentalista. Quine teve grande influência no trabalho e vida de Donald Davidson. A economia ontológica e o holismo da teoria marcam a obra de Davidson através da escolha de eventos como entidades básicas e da proposta de problematização do significado, em Verdade e Significado, através de uma teoria da verdade. Enquanto que em artigos como Action, Reasons and Causes Davidson desenvolve uma abordagem ao papel causal de eventos na intenção e na ação, afirmando que razões são causas, em The Logical Form of Action Sentences e Causal Relations, ele explora as formas lógicas adequadas para descrever eventos e para declarações causais singulares e para estabelecer uma identidade de eventos. As posições metafísicas daqui decorrentes sustentam, em Individuation of Events, um critério de individuação causal de eventos e em Events as Particulars e Eternal vs Ephemeral Events, Davidson sustenta que eventos são particulares espaciotemporais irrepetíveis, finalizando uma discussão metafísica de eventos que lhe permitirá abordar o problema da relação corpo-mente, no argumento do monismo anômalo. O monismo anômalo de Davidson, apresentado em Mental Events propõe as teses do monismo – identidade entre eventos físicos e eventos mentais –, e do anomalismo do mental – eventos mentais falham em cair sob leis causais estritas. Para suportar essas teses, Davidson formula três princípios cuja conjunção nos dá uma versão não reducionista do fisicalismo de ocorrências, que, portanto, permite conciliar o vocabulário mentalista com a estrutura linguística fisicalista. Assim, o monismo anômalo suporta uma teoria da superveniência do mental. Apesar do monismo anômalo sofrer algumas críticas, como a acusação de epifenomenalismo, a teoria só sucumbe nos seus pressupostos iniciais, ou seja, a causalidade e a identidade a priori. Os aspetos mais frágeis do argumento consistem na dificuldade de rastrear e
identificar, na experiência, eventos neurais com eventos mentais, e na formulação de leis estritas. Questões estas que dependem, respetivamente, do avanço das neurociências e desenvolvimento da física. O presente trabalho, pelo nome de “Identidade, Diferenciação e Metafísica de Eventos”, consiste numa abordagem à metafísica de eventos, no contexto do fisicalismo de ocorrências, mais especificamente do argumento do monismo anômalo de Davidson, que afirma a identidade entre eventos físicos e eventos mentais, assim como o papel causal de eventos mentais. Pretende, portanto, coordenar a discussão metafísica de eventos com o monismo anômalo de Davidson.