A principal motivação desse trabalho é contribuir para a produção de alimentos com propriedades bioativas que possam ser direcionados para minimizar os impactos na saúde do estilo de vida contemporâneo. O aumento da hipertensão no mundo, que já afeta 1/3 da população, pode desencadear doenças ainda mais graves. É conhecido que a ação oxidativa pode agir tanto como uma causa, mas também como uma consequência da hipertensão. Uma alternativa, portanto, poderia ser a inclusão de antioxidantes naturais na dieta. No campo da ciência de alimentos e bioquímica, alimentos funcionais se destacam pelas suas características, principalmente sua segurança e multifuncionalidade. Explorando esse campo, alguns peptídeos bioativos apresentam ambas as características de interesse: capacidade antioxidante e atividade antihipertensiva. Analisando outra área – a de resíduos industriais, nota-se que na produção de óleos de soja, mais de 200 milhões de toneladas de farelo de soja são produzidas anualmente. Mundialmente, esse farelo ainda é destinado para a indústria de ração animal. Com uma demanda de óleo que cresce cerca de 5% ao ano, pressionada pelo setor energético, a indústria de ração poderia saturar com consequente impacto negativo nos setores industriais, em especial a indústria de alimentos. Desse modo, é possível afirmar que esse problema envolve tanto a gestão de resíduos, como também aspectos econômicos. O objetivo desse trabalho, portanto, foi obter hidrolisados proteicos bioativos a partir do farelo de soja desengordurado por tecnologia enzimática. As globulinas foram extraídas do farelo de soja em escala de laboratório. Um planejamento fatorial completo 2³ foi realizado para avaliar a influência da temperatura (T = 45°C a 65°C), razão farelo de soja: tampão (5 a 15 mg.mL-1), e concentração enzimática (E = 1 a 3 mU.(mg proteína (PTN))-1) na capacidade antioxidante, analisada com as metodologias ABTS e FRAP, e na atividade antihipertensiva analisada com a atividade ECA inibitória in vitro. Os hidrolisados foram fracionados por ultrafiltração (massa molar de corte (MMC) =10kDa) para recuperar os peptídeos de menor tamanho. O melhor resultado foi obtido a T = 45°C, 5 mg farelo soja. (mL tampão)-1 e E = 1 mU.(mg proteína)-1. Nestas condições, foram alcançados recuperação de proteínas de 4,90 ± 0,15 mg PTN.mL-1, grau de hidrólise (GH) = 33,48% ± 1,01%, capacidade antioxidante de 326,26± 2,58 mmol TE.mg-1 PTN e 26,20 ± 0,00 mmol AAE.mg-1 PTN pelos métodos ABTS e FRAP, respectivamente, e atividade ECA inibitória de 102,15 ± 3,04 iECA%.(mg PTN)-1. Essa condição foi usada durante o processo EHSP, que tinha como objetivos a extração e hidrólise simultânea de proteínas do farelo de soja. Após 3,5 horas de processo, os peptídeos obtidos na corrente do permeado da UF (ou seja, com tamanho menor que 10 kDa) atingiram 22,42 ± 0,98 mmol TE.mg-1 PTN e 1,90 ± 0,11 mmol AAE.mg-1 PTN de capacidade antioxidante, com 19,96 ± 0,58 mg PTN.mL-1 e GH = 39,28% ± 1,13%.