A pesquisa intitulada “Análise da percepção dos extrativistas estuarino-costeiros sobre o zoneamento da extração do caranguejo-uçá (Ucides cordatus) e da madeira nos manguezais da RESEX-Mar Caeté-Taperaçu, Bragança, costa amazônica brasileira” ocorreu no período de março de 2012 a março de 2015. O objetivo foi compreender as formas de apropriação e uso desses dois recursos dos manguezais da referida costa, assim como zonear suas principais áreas intensificadas pela exploração. A coleta foi realizada a partir da percepção dos extrativistas estuarino-costeiros (n=80), com idade acima de 18 anos. A partir de então, foram realizadas entrevistas por meio do instrumento questionário, com perguntas (semi)estruturadas para traçar o perfil de apropriação e uso desses recursos como atividades produtivas. Pôde-se identificar que existem cerca de 700 pessoas que praticam a pesca do caranguejo-uçá como a principal atividade produtiva nos manguezais da RESEX-Mar. Identificou-se também que os extrativistas estuarino-costeiros são especializados em mais de uma atividade produtiva. A escolaridade desses atores sociais foi considerada baixa e suas atividades produtivas ligadas ao ecossistema de manguezal ocorrem o ano todo, com exceção no período do defeso do caranguejo-uçá, e, parte da produção é destinada à comercialização. Os mesmos percebem alguns impactos negativos com relação ao extrativismo nos manguezais da referida RESEX-Mar. Todavia, inferem indicativos de recuperação como replantio das áreas degradadas e coleta sistemática dos resíduos sólidos. Porém, fatores como a falta de oportunidades formais de emprego e a baixa escolaridade, fazem com que percebam como a única alternativa de renda, a prática do extrativismo nos manguezais. Importante achado foi o zoneamento de 32 áreas de pesca intensiva do caranguejo-uçá e, 20 áreas de corte da madeira de mangue nos manguezais da RESEX-Mar. As zonas de exploração do caranguejo-uçá (n=32) foram georreferenciadas e plotadas no Programa ArcGis e gerados mapas, assim como a caracterização das áreas por meio dos fatores fácil e difícil acesso. Nessas áreas, abria-se uma parcela de 100m x 25m, depois a dividia em quatro parcelas (25 x 25m) e realiza-se a contagem das galerias. Em seguida, os espécimes pescados para a comercialização eram medidos (largura da carapaça), num total de 150 indivíduos por área, o que totalizaram 4.800 indivíduos. Os resultados apresentaram que as áreas de fácil acesso (FA) são as que possuem o menor caranguejo-uçá (> 6,0 cm e < 7,3 cm), e, portanto as mais intensificadas na exploração, enquanto que as áreas de difícil acesso (DA) possuem o maior caranguejo-uçá (≥7,3 cm). Analisado esse resultado pela Regressão Logística, demonstrou-se ser bastante significativo, onde existe a probabilidade de aproximadamente 92% de ocorrer o caranguejo-uçá grande nas zonas de DA e 25% nas zonas de FA. No geral, o tamanho médio do caranguejo-uçá na península é de 7,3 cm de largura da carapaça. Os extrativistas estuarino-costeiros identificaram as 20 principais zonas de corte da madeira de mangue, o que foi possível georreferenciá-las, a considerar as três principais espécies de mangue da península de Ajuruteua Rhizophora mangle, Avicennia germinans e Laguncularia racemosa. Em cada zona de corte, abria-se uma parcela de 10m x 10m, para retirar as medidas dos atributos estruturais dos bosques de mangue, tanto das árvores vivas quanto dos troncos cortados. A partir de então, foi possível determinar a intensidade de corte para cada uma das três espécies de mangue, assim como gerar um índice de corte (Ic) para os manguezais da RESEX-Mar de Bragança, com a identificação do grau de impacto (baixo, médio e alto) desse corte. Nesse sentido, a espécie arbórea com maior audiência de corte foi a Laguncularia racemosa, seguida pela Avicennia germinans e a Rhizophora mangle, justificada o uso como as espécies preferidas para a confecção de currais de pesca. O Ic revelou que os manguezais da RESEX-Mar Caeté-Taperaçu está submetido ao médio impacto, com predição ao alto se continuar o corte com a mesma audiência encontrada por este estudo. Por fim, os resultados e discussão permitiram a inferência de que alguns indicadores de conservação e manejo capazes de minimizar a pressão que ora passa esses manguezais dessa RESEX-Mar. Esses indicadores versam para a oferta de oportunidades de alternativa de renda, reconhecimento e regulamentação por parte dos órgãos governamentais da categoria pescador do caranguejo-uçá para acesso aos direitos previdenciários, à saúde, à aposentadoria e à escolarização específica para os extrativistas estuarino-costeiros, a considerar o ciclo sazonal de suas atividades produtivas.