Parasitos pertencentes ao gênero Echinostoma caracterizam por apresentar um ciclo
biológico complexo, com dois hospedeiros intermediários e sítio final de infecção restrito ao
lúmen intestinal de seus hospedeiros definitivos. Estes hospedeiros são representados
principalmente por aves aquáticas e semi-aquáticas, mamíferos, incluindo o homem, e
ocasionalmente algumas espécies de répteis e peixes. Possuem como primeiros hospedeiros
intermediários moluscos límnicos, onde os miracídios penetram ativamente e desenvolvem até
os estágios de esporocistos, rédias e cercárias. Por sua vez, crustáceos, anfíbios, peixes e
moluscos límnicos atuam como segundos hospedeiros intermediários onde ocorre a formação
de metacercárias, estágios infectantes ao hospedeiro definitivo. Neste estudo, Biomphalaria
glabrata foi experimentalmente infectada com diferentes doses miracidiais (5 ou 50) de E.
paraensei. Os moluscos foram dissecados após uma, duas, três e quatro semanas de infecção
para a coleta da hemolinfa e tecidos (complexo gônada-glândula digestiva- GGD e massa
cefalopediosa). Na hemolinfa foram quantificadas as concentrações de glicose e de ácidos
carboxílicos (succínico, pirúvico, lático e oxálico), bem como a atividade da lactato
desidrogenase (LDH). Nos tecidos de estocagem foram mensurados os conteúdos de
glicogênio e consumo de oxigênio (O2). Alterações foram observadas na glicemia dos
moluscos, em ambas as situações de parasitismo, com significativo aumento dos níveis de
glicose verificado a partir da terceira semana de infecção quando comparado ao grupo
controle. Mudanças foram também descritas em relação à atividade da lactato desidrogenase,
sendo caracterizadas pelo aumento de sua atividade nos períodos mais tardios da infecção. Em
paralelo, verificou-se um decréscimo nos conteúdos de glicogênio em tecidos de
armazenamento, sendo tal redução maior na glândula digestiva (sítio de desenvolvimento
larval), em comparação à massa cefalopediosa. A infecção por ambas as doses miracidiais
ainda resultou em um aumento dos níveis de ácidos oxálico e lático, bem como em um
declínio nos conteúdos de ácidos pirúvico e succínico em B. glabrata. Significativa supressão
no estado fosforilativo (estado 3 respiratório) e no consumo basal de oxigênio (estado 1 e 2)
em B. glabrata infectada por E. paraensei foi demonstrada, indicando que a infecção por este
equinostomatídeo diminui a capacidade do hospedeiro intermediário em realizar reações
oxidativas aeróbias. Variações relevantes relacionadas ao estado mitocondrial desacoplado
(estado 3u) de B. glabrata infectada por tal trematódeo foram também descritas. Tais
resultados demonstram redução na taxa de descarboxilação oxidativa das reações que
integram o ciclo do ácido tricarboxílico e aceleração do processo de degradação anaeróbia de
carboidratos nos moluscos infectados, através da fermentação lática, essencial para garantir a
obtenção de energia e o sucesso da infecção. Assim, os resultados observados neste estudo
demonstram que a infecção com cinco ou 50 miracídios de E. paraensei provocou
consideráveis alterações metabólicas em B. glabrata, sendo que os moluscos expostos a maior
carga miracidial apresentaram os maiores danos, caracterizando uma resposta dosedependente.