Este estudo parte do pressuposto de que as crianças, enquanto seres constituídos de natureza e de cultura, necessitam de convívio com o mundo natural, sendo este um dos seus direitos inalienáveis e uma das condições para que elas se desenvolvam plenamente. O afastamento das crianças da natureza é uma das características da infância contemporânea e é resultado de um longo processo histórico, que, a partir da era moderna, instrumentalizou a natureza para fins mercadológicos e retirou o ser humano do seu convívio. Uma das consequências desta visão nas escolas da infância é uma educação distante da vida, realizada em espaços fechados que aprisionam o corpo, desconsideram as especificidades das culturas infantis, e, consequentemente, bloqueiam o desenvolvimento das potencialidades das crianças. Esta pesquisa buscou sistematizar significados e sentidos expressos pelas crianças quando convivem e atuam nas áreas verdes e discutir de que modo estes sentidos contribuem para sua formação enquanto seres compostos de múltiplas dimensões. A investigação, de natureza qualitativa, se deu na Escola Infantil Apito, no município de Camaçari, Bahia, através da observação participante junto a uma turma de crianças de cinco anos de idade e da realização de um grupo focal com quatro educadoras e quatro estagiárias. Teve, entre seus referenciais, os estudos sobre: a educação ambiental na primeira infância; a organização dos ambientes de aprendizagem; a escuta das crianças enquanto produtoras de cultura; o desenvolvimento da sensibilidade como condição necessária para construção de novos modos de vida. Os dados revelam que as áreas verdes são espaços amplamente preferidos pelas crianças, nos quais elas brincam, interagem, imaginam e criam, onde o corpo se movimenta livremente a partir de seus desejos e interesses. Além disso, pelas experiências espontâneas, de plantios e cultivos, de cuidado com os animais, as crianças aprendem sobre o mundo natural e exercitam o cuidado amoroso com outras formas de vida. Nossa humanidade, constituída pelas dimensões racional, corporal, espiritual, emocional, se amplia e se aprofunda a partir da integração com o mundo natural, do qual somos parte, resultando em modos de viver pautados, prioritariamente, pela sensibilidade. O convívio com os demais seres e elementos da natureza é, portanto, um dos caminhos primordiais em nosso processo de humanização.