O Oeste Catarinense é considerado o berço dos movimentos sociais e uma região marcada por lutas políticas e desigualdades sociais, que caracterizam e transformam o processo de experienciação de grupos
sociais excluídos da história oficial, argumento histórico e político que justifica a realização desta investigação. Na busca por identificar as motivações que impulsionaram a organização de um movimento social e o processo de formação e práticas educativas experienciadas por sujeitos sociais em um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST), esta pesquisa analisa a relação entre formação político-ideológica e práticas educativas não formais no processo de conquista da terra e organização atual do Assentamento Dom José Gomes em Chapecó (ADJG), Santa Catarina. Em termos epistemológicos, fundamenta-se na perspectiva do materialismo histórico e cultural de Edward Palmer Thompson. A abordagem se justifica pelo fato do processo de formação vivenciado pelos sujeitos sociais investigados estar associado a uma experiência mais ampla permeada por uma trajetória de luta pela terra e consciência de classe
orientada pelo MST, que busca questionar e mudar estruturas econômicas, culturais e políticas excludentes. Caracteriza-se por uma abordagem qualitativa/descritiva e como estudo de caso, orientado por trabalho de campo, tendo sido realizadas consulta a documentos, entrevistas semiestruturadas e observação participante. A delimitação dos sujeitos se deu por escolha intencional. Para analisar os dados coletados, utilizou-se da Análise do Discurso proposto por
Maingueneau. Ao analisar a formação político-ideológica promovida pelo MST no ADJG, destacam-se trajetórias de lutas individuais que contribuíram para formação desta classe (trabalhadores sem terra) e assim compreende-se as relações existentes na base deste movimento social, conhecendo as dificuldades que influenciaram e levaram estes trabalhadores a participar dele, tanto por suas trajetórias marcadas pelo sofrimento e assujeitamento ao capitalismo quanto pelo sonho de conquista da terra. Dos resultados, podemos inferir que antes da entrada no MST os entrevistados se mostravam individualistas, já na luta coletiva, passaram a questionar sua condição social e os valores
atribuídos pelo capital. A situação de exclusão foi um dos fatores propulsores para o ingresso e experiência de luta dos entrevistados junto ao Movimento, permitindo-lhes assumir uma luta mais ampla: pela reforma agrária e por uma sociedade mais igualitária. A formação no ADJG e no MST como um todo não está limitada aos espaços formais,
pois está relacionada às experiências vividas e, assim, perpassa diferentes espaços socializadores em que a formação da identidade coletiva se constrói. As atividades de formação desenvolvidas são importantes porque se constituem como experiências contra hegemônicas e que trazem presentes a conflitualidade que marca a sociedade de classes. É inegável que a formação realizada pelo MST tem estabelecido fortes laços entre Movimento e militantes, o que não exclui relações de conflito. Contudo, em sua grande maioria, os assentados entrevistados demostraram que incorporaram a luta do MST, indicando a capacidade deste em formar política e ideologicamente estes sujeitos, visto ter constituído sujeitos comprometidos em dar continuidade à luta e às práticas do MST.