Em Oriximiná, no estado do Pará, a exploração de bauxita resultou no descarte de cerca de 24 milhões toneladas de rejeito mineral no lago Batata, entre os anos de 1979 e 1989, atingindo os compartimentos bentônico e pelágico, e assoreando áreas de vegetação marginal (igapó). Como consequência da deposição do rejeito da bauxita sobre o
sedimento do lago, a disponibilidade de nutrientes e energia nesse compartimento foi reduzida drasticamente afetando também o compartimento pelágico devido à resuspensão do sedimento. Após medidas de mitigação aplicadas iniciou-se então o processo de restauração passiva do sistema (resiliência), junto com a formação de uma
camada de matéria orgânica sobre a camada de rejeito de bauxita e redução da presença de rejeito na coluna d’água ao longo dos anos. Utilizando a concentração de matéria orgânica no sedimento (MOS) como indicador de qualidade ambiental no compartimento bentônico, o presente estudo tem como principais objetivos: (I) Avaliar a influência do pulso de inundação no processo de restauração natural do compartimento bentônico do lago Batata, entre os anos de 1989 e 2013, mediante o cálculo de tendências temporais de MOS ao longo dos anos (II) Testar o papel da MOS
como fator responsável pela redução da concentração de sólidos totais em suspensão na coluna d’água (STS), através da comparação de séries de MOS, STS e profundidade do lago Batata, pelo método de correlação cruzada. (III) Investigar o papel do arroz bravo (Oryza glumeapatula) na restauração das áreas impactadas pelo rejeito, através da avaliação da distribuição vertical da MOS ao longo de testemunhos do sedimento, tomando como referência regiões menos impactadas à jusante do lago. O acréscimo da concentração de MOS ocorre principalmente durante as fases enchente/águas altas do pulso de inundação, através do processo de carreamento do material orgânico advindo do igapó, macrófitas, e vegetação terrestre. A fase de enchente ainda se destaca como o
período de maior MOS, por conta do aporte via escoamento pluviomético e estágio de decomposição menos avançado da carga de MO recentemente depositada. Também foi constatado que as variações interanuais do pulso de inundação influenciaram no processo de restauração do sedimento. Nos anos de cheias extremas, ocorre um maior aporte de material alóctone, que por sua vez, é incorporado ao sedimento cerca de um ano depois. Não foi encontrada evidência para suportar a hipótese de que a camada orgânica é responsável pela redução da resuspensão do sedimento, pois não houve correlação entre o acréscimo de MOS e a redução do STS ao longo dos anos.
Provavelmente a recuperação da transparência do lago se deve à compactação do rejeito, independentemente do teor orgânico. Por último, o trabalho demonstrou a contribuição dos estandes de arroz bravo (Oryza glumaepatula) para o aumento da MO das camadas superficiais do sedimento (até 6 cm de profundidade). No entanto, a distribuição vertical não entre áreas impactadas com e sem arroz não se diferenciou estatisticamente, mas a taxa de ganho de MOS por centímetro de camada formada tende a ser maior com a colonização do arroz. Os resultados dessa pesquisa destacaram a importância de mecanismos intranuais e interanuais de deposição da MOS, ambos governados pelo
pulso de inundação. A contribuição dos estandes de arroz bravo (Oryza glumaepatula) também foi importante na restauração do compartimento bentônico em termos de MOS, frente ao impacto mineral por rejeito de bauxita.