A produção de biocerâmicas de fosfatos de cálcio por precipitação química é amplamente conhecida. Nos últimos 20 anos, pesquisas têm sido feitas nas áreas de dopagem. Dentre estas, há pesquisas usando o íon estrôncio (Sr2+) que datam dos últimos 7 anos. O controle de parâmetros no processo de substituição iônica é importante para obtenção de com controle de fases formadas e suas morfologias buscando melhorias de propriedades e funcionalidades ao biomimetizar características dos materiais biológicos naturais. Como também, diferenças nas características micro e/ou nanométricas que se apresentam no material podem ocasionar influências significativas no comportamento intracorpóreo. Sendo assim, o crescimento de cristais de fosfatos de cálcio tem alta importância na biomineralização. O presente trabalho objetivou, através de incorporação dos íons de estrôncio (Sr2+), controlar parâmetros de síntese na formação de diferentes morfologias e fases cristalográficas. Também buscou o entendimento dos mecanismos de crescimento e auto-organização destes materiais. Para a síntese, por precipitação química de soluções aprimoradas, procede com reação de Ca(NO3)2 e Sr(NO3)2, velocidade de gotejamento de ~1.5mL/min em solução de (NH4)2HPO4 com relação Ca/P=1.67 com 19 at%, 40 at% e 53 at% de íons Sr2+, feitas em meio de ácido a básico em pH=6, 7 e 8. As amostras foram caracterizadas por DRX, MEV e EDS. Pelas análises de DRX foram encontradas as fases cristalográficas brushita (DCPD) monoclínico (Cc), monetita (DCP) triclínico (P-1), hidroxiapatita (HAP) monoclínica (P21/c) e hexagonal (P63/m). Percebeu-se que a fase formada depende da concentração de Sr2+ na síntese e da influência do pH nas substituições iônicas entre o Sr2+ e o Ca2+, o que resultou em diferentes morfologias (placas ou lâminas, pétalas e hexágonos) de acordo com a quantidade de Sr2+ incorporado aos sítios de Ca2+ do biomaterial. Através da relação iônica Ca+Sr/P demonstra-se que ela decresce em todas as amostras em comparação à relação Ca/P da amostra padrão em todos os pH e apresenta diferentes relações para cada tipo de morfologia. Na síntese, tanto para pH=6 sem adição de Sr2+, 19 e 40 at% e em pH=7 e 8 com adição de 40 e 53% apresentam fases DCPD e DCP pura ou dopada com Sr2+ de ~4 a ~7 at%, morfologias de placas ou pétalas e respectivas relações iônicas de ~1,23 a 1,42. Em pH 7 e 8, sem adição de Sr2+ e a 19 at%, apresentam a fase HAP (P63/m) pura ou dopada com inclusão de ~11 a ~14 at% com grãos disformes e relações iônicas de ~1,54 a ~1,85, dentre estas há morfologia de nanoesferas em pH=8 com 19 at% com inclusão de ~14 at% e relação iônica ~1,76. Além destas, em todas as faixas de pH com adição de Sr2+ de 40 e 53 at% há morfologia de cristais hexagonais com alta simetria e nucleação avançada de fase polimórfica de HAP monoclínica (P21/c) com inclusões de ~18 a ~34 at% e relação Ca+Sr/P de ~1,39 a ~1,76. A relação dos dois polimorfos HAP (P63/m) e HAP (P21/c) é uma questão complexa referente à real estrutura da fase pura (P63/m), já que a geometria de geminação da fase (P21/c) é apenas anunciada na literatura, mas nada se sabe sobre a relação entre estes polimorfos e o crescimento de morfologias é pouco conhecido experimentalmente. Embora as diferenças estruturais entre elas sejam muito pequenas, são suficientes para exercer um forte impacto sobre algumas propriedades físico-químicas, uma vez que a (P21/c) é estruturalmente mais estequiométrica do que a (P63/m). Investigações teóricas mostram que o polimorfo (P21/c) é mais ordenado e energeticamente mais estável que o (P63/m). Nas amostras com adições de Sr2+ a partir de 40 at% até 53 at% apresenta estabilidade estrutural e simetria durante o crescimento do cristal, resultando na nucleação por sobreposição de camadas com orientação preferencial no plano (020) da rede cristalina da HAP monoclínica (P21/c), formando a morfologia hexagonal altamente regular e ocasionalmente biomimetizando cristais hexagonais encontrados na natureza com alto desempenho mecânico. A forma do cristal hexagonal perfeito externamente disfarça o processo complexo do seu crescimento, em que o polimorfo (P21/c) é dominado desde a fase de nucleação, representado não como um monocristal, mas por uma fina textura de maclas através de pequenos domínios de crescimento dos cristais que são visualizados em pontos de simetria pseudo-hexagonais, sendo a fase inicial caracterizada por um crescimento excessivo de polimorfos monoclínicos geminados enquanto que na segunda fase, há a formação completa do cristal único com estrutura hexagonal. Com este trabalho, alcançou-se o controle no processo de manipulação atômica na supersaturação de Sr2+ em substituição nos sítios de Ca2+, ocasionando estabilidade e homogeneidade estrutural do "bulk" como também nas paredes dos cristais de HAP monoclínico (P21/c) nucleados.