Glioblastoma multiforme (GBM) é o tumor cerebral mais comum, agressivo e invasivo em humanos. A agressividade deste modelo está relacionada com a capacidade de invasão do tecido nervoso normal adjacente ao tumor, raramente ocorrendo metástase para fora do sistema nervoso central. A proteína supressora tumoral p53, codificada pelo gene TP53, possui função essencial na prevenção do câncer ao induzir a parada do ciclo celular ou apoptose em resposta a danos ao DNA. TP53 é frequentemente mutado em câncer, o que pode comprometer a função da p53 e torná-la um importante alvo terapêutico. Estudos do nosso grupo mostraram que p53 é capaz de agregar em uma mistura de oligômeros e fibras, que podem sequestrar e inativar a p53 selvagem, comportamento este semelhante a um príon. Além disso, já foram reportados agregados de p53 em biópsias e culturas celulares de câncer de mama, carcinoma de células basais e ovário. No presente estudo, nosso objetivo foi avaliar agregação e ganho de função oncogênica (GOF) de p53 mutante em linhagens celulares de GBM. Contamos com as linhagens de glioblastoma U87MG, que possui p53 selvagem, T98G e U138MG que possuem mutação no domínio de ligação ao DNA (DBD) da proteína p53 e GBM11, que é derivada da biópsia de um paciente. Inicialmente buscamos compreender os níveis transcricionais e proteicos de p53 pelas técnicas de RT-PCR e Imunoblotting, respectivamente. Os dados sugerem que T98G e U138MG possuem maiores níveis transcricionais e proteicos quando comparado com U87MG. Ao analisar o modelo T98G, observamos um desequilíbrio com maior nível proteico, em relação aos transcritos de p53. Este é o primeiro indício que p53 mutada pode estar acumulando em T98G. O sequenciamento do DBD da p53, nos modelos de GBM, mostrou que GBM11 é selvagem, assim como U87MG. T98G, confirmou a mutação M237I. Em seguida, a agregação proteica foi avaliada in vitro e nas células de GBM pelas técnicas de cromatografia de exclusão por tamanho, imunocitoquímica e espalhamento de luz no espectrofluorímetro. Os resultados sugerem a presença de oligômeros de p53 em todos os modelos celulares, no entanto de forma predominante nas regiões nuclear e perinuclear dos modelos GBM11 e T98G. In vitro, comparando a cinética de agregação dos domínios: transativação, DBD e oligomerização da proteína p53, pode-se observar que os domínios contribuem de forma distinta no processo de agregação da proteína inteira. Além disso, ensaios in vitro que mimetizam o ambiente intracelular, molecular crowding, mostram que o ambiente rico em macromoléculas pode retardar a cinética de agregação da p53. Posteriormente, foram avaliados nas linhagens de GBM, os níveis de transcrição de p53 e seus genes alvos em resposta ao tratamento com temozolomida. Foi observado que p53 mutada em T98G apresenta GOF por aumento na expressão da enzima o-6-metil guanina DNA metil transferase. Além disso, as células U138MG e T98G apresentam maior migração celular quando comparada com U87MG. Esses resultados sugerem a participação da p53 como oncogene em células de glioblastoma, onde a formação de oligômeros pode contribuir com o fenótipo de GOF e quimiorresistência. O conhecimento sobre os mecanismos de GOF em mutantes de p53 pode auxiliar na formulação de futuras intervenções terapêuticas voltadas para o bloqueio do processo de agregação.