Estima-se que até 2050 a população do planeta Terra atingirá 9,7 bilhões de pessoas. Dessa forma, há a necessidade no aumento da produção de alimentos, intensificando no uso de fertilizantes nitrogenados, que em excesso tornam-se agravantes contaminantes do solo, água e ar. Uma maneira eficaz de reduzir esse impacto é desenvolver fertilizantes de liberação controlada que disponibilizam nutrientes de forma gradativa, conforme a necessidade das plantas. Assim, este estudo teve como objetivo avaliar a interação de turfa, ácido húmico, humina e ureia, em quitosana, como alternativa para liberação controlada de ureia. A quitosana in natura foi caracterizada por titulação potenciométrica, obtendo grau de desacetilação de 74,1%. Esferas de quitosana e material húmico foram preparadas e caracterizadas por análise elementar (CHN), obtendo-se 34,7- 25,3 % de carbono, e 3,77- 2,36 % de nitrogênio. O aumento na razão elementar C/N corroborou o indicativo de inclusão de compostos reticuladores que interagem com os grupos amino da quitosana. Os espectros de infravermelho (FTIR) mostraram bandas de absorção referentes a grupos funcionais que compõem as amostras e interagem entre si, e a segunda derivada aplicada aos espectros de infravermelho auxiliou na elucidação da interação química entre as espécies, como a presença da carbonila em 1715 cm-1. A microscopia eletrônica de varredura (MEV) permitiu a visualização da superfície rugosa e aglomerada das amostras, bem como pontos esbranquiçados referentes à ureia. A espectroscopia de ressonância paramagnética eletrônica (EPR) mostrou fatores-g entre 2,0031 e 2,0034 típicos de radicais livres orgânicos (RLO) nas substâncias húmicas (SH) com concentração entre 1,35 x 1017 e 1,92 x 1018 spins g-1. Após adição das SH em quitosana os fatores-g foram semelhantes aos RLO das SH e os espectros apresentaram perfis de ambos os materiais; o aumento na largura da linha indicou interação entre os spins dos átomos no meio quitosana-substâncias húmicas-ureia. A determinação de ureia derivatizada com xantidrol por cromatografia líquida de alta eficiência com detector de fluorescência (CLAE-DF) obteve coeficiente de determinação r2= 0,999 na faixa linear de 0 a 100 mg L-1, baixa interferência da matriz na determinação de ureia, LD= 0,006 mg L-1 e LQ= 0,02 mg L-1, exatidão entre 95,5 % e 107,7 % e desvios padrões relativos entre 0,07 % e 1,66 %. O estudo de liberação mostrou que as amostras desprendem ureia de forma
controlada, em função do pH (2,5 < pH 4,0< pH 9,0). Os dados de liberação se ajustaram aos modelos de Ritger-Peppas, indicando mecanismos de transporte anômalo e Super Caso II, com excessão à Quitosana-Turfa-Ureia em pH 4,0 (QTFU) e Quitosana-Humina-Ureia em pH 9,0 (QHMU), ajustando-se ao modelo de Higuchi. Nos experimentos de liberação no solo foram obtidos graus de liberação crescentes conforme o tempo, com α= 0,44 para QAHU, α= 0,48 para QTFU e α= 0,67 para QHMU no primeiro dia de experimento, não excedendo 70% após 7 dias. Portanto, os resultados mostraram a potencialidade da turfa, ácido húmico e humina em quitosana na elaboração de fertilizantes de liberação controlada de ureia, contribuindo para a redução dos impactos ambientais e econômicos.