Este trabalho tem como objetivo discutir as experiências de loucura para além da perspectiva psiquiátrica, focando os próprios sujeitos, atores da realidade que vivenciaram, no contexto da história da psiquiatria na Bahia, especialmente visando a contribuir para a história das mulheres no Brasil, nas proposições da História Social, a partir da categoria “experiência”. Para isso, articulam-se enquanto fontes fichas diagnósticas, relatórios dos anos de 1931, 1940 e 1944, notícias e artigos publicados referentes ao hospital na impressa local e outros registros sobre as internas, buscando compreender os sujeitos sob as experiências de loucura pelo viés da análise histórica dos hospitais psiquiátricos. A partir desta proposta, busca-se situar os dispositivos legais das décadas de 1930 e 1940 que formalmente posicionaram o Hospital São João de Deus como objeto central no desenvolvimento da medicina psiquiátrica naquele período, discutindo, mais especificamente, as questões de raça e gênero que estavam vinculadas às concepções psiquiátricas vigentes à época. Em seguida, pontuam-se os principais usos e concepções da psiquiatria brasileira entre 1930 e 1940, bem como seus desdobramentos práticos na medicina mental de âmbito hospitalar, analisando-se os prontuários hospitalares como fonte histórica, incluídos os diagnósticos, tratamentos e as classificações psiquiátricas às quais foram submetidos os internos. Reflete-se também a respeito das experiências das internas no referido hospital, a partir das evidências apreendidas na operação historiográfica de realização de intersecções entre prontuários, relatórios e ofícios do hospital, reportagens jornalísticas e imprensa local. A partir da análise das evidências concernentes aos aspectos cotidianos das vivências das internas e os primeiros esboços de trajetórias dessas mulheres, conclui-se, ainda que não em absoluto, a existência de uma ocultação das histórias de sujeitos por meio da exclusão e isolamento social, fato este que demanda mais estudos a fim de delimitar com maior exatidão a trajetória e nuances que cercaram os internamentos e tratamento desses sujeitos.