Esta dissertação tem como objetivo principal investigar se a cor da pele da mulher e a cor
da pele do agressor influenciam na responsabilização da mulher pela violência por ela
sofrida. Diante disso, foram formuladas três hipóteses principais que orientaram a
execução de três estudos empíricos. O Estudo 1 testou as seguintes hipóteses: a vítima de
violência sexual negra será mais responsabilizada do que a vítima branca e as vítimas serão
mais responsabilizadas quando o agressor for negro. Participaram voluntariamente 200
estudantes universitários com idade média de 20,70 anos (DP = 4,00; 99 homens e 101
mulheres), os quais foram alocados em cada uma das quatro condições experimentais
(fotos de homem negro e de mulher branca; fotos de homem branco e de mulher negra;
fotos de homem negro e de mulher negra e fotos de homem branco e mulher branca).
Como resultado observou-se que quando o agressor é negro, a vítima branca (M = 3,83, DP
= 0,29) é mais responsabilizada do que a vítima de cor negra (M = 2,87, DP = 0,26). Dessa
forma a primeira hipótese não foi confirmada, em oposição, como previsto os resultados
indicam que a cor da pele do agressor influencia na responsabilização da vítima. Uma vez
que o sexo dos participantes não exerceu nenhuma influência nesses resultados, levantou-
se a hipótese que o contexto profissional dos participantes poderia influenciar na
responsabilização da mulher pela violência por ela sofrida. Assim, o Estudo 2 buscou
investigar se a classificação de profissões em masculinas e femininas (Carvalho, 2003)
continuava em vigor para no Estudo 3 testar esta hipótese. Os participantes do Estudo 2
foram 100 estudantes universitários com idade média de 21,66 anos (DP = 3,53; 48
homens e 52 mulheres). Os resultados indicam que a categorização continua em vigor
atualmente, considerando cursos tais como Engenharias, computação, física e matemática
como profissões melhor desempenhadas por homens e enfermagem, nutrição e pedagogia
como cursos considerados femininos. Por fim, o Estudo 3 buscou testar a terceira hipótese
de que a pertença grupal do participante (cursos femininos vs. cursos masculinos)
influenciaria na responsabilização da vítima. Com a participação de 202 estudantes
universitários com idade média de 21,51 anos (DP = 5,17; 101 homens e 101 mulheres)
constatou-se que há um efeito de interação tripla significativo entre cor da pele da vítima,
cor da pele do agressor e pertença grupal do participante, confirmando a hipótese
levantada. Assim, nos cursos femininos, quando a vítima era branca e o agressor negro, ela
foi mais responsabilizada (M = 3,86, DP = 0,30) do que nas outras condições
experimentais.