Com o crescimento demográfico e conseqüente redução do poder aquisitivo de grande
parcela da população mundial, métodos alternativos e complementares de saúde se fazem cada
vez mais necessários. A fitoterapia, abrangendo o uso popular e empírico de plantas medicinais
no combate e prevenção de doenças, deve ser aliada a estudos científicos que comprovem a
eficácia e segurança desses compostos. No Brasil, a ampla biodiversidade vegetal da região
nordeste favorece o uso e estudo de plantas com potenciais terapêuticos. A Myracrodruon
urundeuva Allem. (aroeira do sertão) é uma espécie pertencente à família Anacardiaceae, própria
das matas secas das encostas e da caatinga, comum no semiárido, desde o Piauí até Minas
Gerais. Seu uso é diverso e disseminado por todo o País, sendo indispensáveis estudos de suas
potencialidades e riscos. Nesse intuito, o presente trabalho teve como objetivo verificar possível
efeito do extrato etanólico das folhas de Myracrodruon urundeuva (EEMU) no Sistema Nervoso
Central através de modelos comportamentais em camundongos, bem como efeitos no ciclo estral
e a toxicidade subaguda em ratas Wistar. Na avaliação comportamental, os camundongos (n = 5)
receberam EEMU via oral (v.o.) nas doses de 100, 200 e 400 mg/kg, o grupo controle negativo
recebeu salina (10 mL/kg v.o.) e ao grupo controle positivo foi administrado diazepam (2mg/kg)
(i.p., padrão ansiolítico). No protocolo de toxicidade subaguda foram utilizadas 35 ratas Wistar,
divididas em 5 grupos (n=7), tratadas, por via oral, com diferentes doses do EEMU (125, 250,
500 e 1000 mg/kg) e água destilada (controle) por um período de 28 dias. Nesse período foram
realizadas mensurações do consumo de água e ração e avaliação ponderal dos animais. Esses
animais foram avaliados diariamente quanto a fase do ciclo estral, por meio de esfregaço vaginal
a fresco, sendo avaliado a frequência de cada fase bem como o intervalo inter-estro. As ratas
foram anestesiadas e o sangue foi coletado para análises bioquímicas Em seguida, as ratas foram
eutanasiadas para coleta e avaliação dos órgãos internos. O útero e ovários foram submetidos ao
preparo e análise histopatológica. Na avaliação comportamental, o tratamento com EEMU
diminuíu o número de invasões e de rearings no teste do campo aberto, e aumentou o tempo de
permanência no braço aberto e no compartimento claro nos testes de labirinto em cruz elevado e
transição claro/escuro, respectivamente. Quanto ao protocolo de toxicidade subaguda, não foram
observadas alterações comportamentais significativas, tampouco alterações no ganho de peso e
consumo de água e ração dos animais. Não houve diferença estatística entre os grupos quanto a
frequência das fases do ciclo estral, duração do estro e intervalo interestro, o que demonstra
ausência de toxicidade do extrato nos parâmetros reprodutivos avaliados. Assim, os resultados
obtidos neste estudo indicam potencial ansiolítico do EEMU e não apontam alterações tóxicas
significativas, sistêmicas ou sobre o ciclo estral, de ratas Wistar tratadas com o extrato, nas doses
avaliadas, por um período de 28 dias. Todavia mais estudos devem ser realizados a fim de
melhor elucidar a eficácia e segurança desse extrato.