O setor oriental da Zona Costeira Amazônica (ZCA) é caracterizado principalmente por um regime de macromarés, chuvas abundantes e um baixo relevo. Existe uma extensa planície costeira, que inclui vários estuários (como o Taperaçu), planícies de maré, praias influenciadas por maré e grandes florestas de mangue desenvolveram-se principalmente durante os últimos cinco mil anos, como resultado da estabilização do nível do mar, ou uma grande redução no aumento da velocidade durante o Holoceno. Com a estabilização no Holoceno do nível do mar na ZCA, o suprimento de sedimentos da plataforma continental, empurrado em direção à costa pelas ondas e marés, tem gradualmente preenchido os estuários, especialmente quando a descarga fluvial é particularmente baixa, como o Taperaçu. Neste estuário, o processo de preenchimento, ainda em curso, é notável em sua porção superior, a qual já foi convertida em pântanos e campos. O objetivo deste estudo foi investigar este processo de preenchimento da cabeceira do estuário Taperaçu, com base em furos e perfis de sub-superfície, usando o sistema chamado "Rammkernsonde” (RKS) e o SIR-3000 / sistema de GSSI, respectivamente, somando sete furos e cerca de 40 metros de registro, bem como 3 km de GPR. Foram analisadas a granulometria das amostras de sedimento (75 amostras) e idades (19) de C-14 de pontos estratégicos nas camadas. Como hipótese inicial considerou-se que as cabeceiras do Taperaçu foram preenchidas durante o Holoceno, e que a área seria uma espécie de laguna durante as fases iniciais do afogamento pelo nível do mar da costa. Uma vez que se observa no presente um grande transporte e preenchimento por areia do estuário do Taperaçu, era esperado que o preenchimento das suas cabeiras fosse composto principalmente por areia. No entanto, os resultados revelaram um cenário diferente. Os perfis indicam mistura de areia e lama, muitas vezes em camadas intercaladas, associada à circulação de maré em ambiente estuarino, canais e planícies de maré / manguezal. Em geral, os sedimentos eram compostos por 65% de areia e 35% de lama. Além disso, importante discordância de idade foi encontrada dentro do pacote de sedimentos do Quaternário, revelando que o preenchimento é composto de fato por dois envelopes diferentes de lamas de estuário/mangue, sendo o superior do Holoceno e o inferior do Pleistoceno. A lama holocênica inclui normalmente os 5 metros superiores, e sua base foi datada em 7.595 ± 25 a. cal. A.P., e da sua parte superior foi assumida como sendo bastante recente (~ décadas). As lamas do Pleistoceno corresponderiam à Penúltima Transgressão (ou seja, ~120 mil a. A.P.) e várias datações dessas camadas superaram o limite do método de datação do C14 (ou seja, 43.500 a. A.P.). Os resultados como um todo mostraram que durante o nível do mar alto no Pleistoceno, bem como durante toda a estabilização do nível do mar Holoceno a área era semelhante à atual, com um preenchimento gradual do estuário por areias da plataforma interna e lamas (de origem ainda incerta), onde os canais são gradualmente convertidos em manguezais e estes tornam-se pântanos salinos e campos. Além disso, a falta de um verdadeiro rio torna possível preservar parcialmente o preenchimento do Pleistoceno, mostrando que este processo de preenchimento é muito mais complexo do que geralmente é esperado em estuários e, por sua vez, estuários não são simplesmente ambientes efêmeros, mas sim episódicos e recorrentes.