A família Leptodactylidae (Amphibia, Anura) é atualmente composta por três subfamílias: Leptodactylinae, Leiuperinae e Paratelmatobiinae. A subfamília Paratelmatobiinae foi proposta, com base em análises moleculares, para agrupar os gêneros Scythrophrys e Paratelmatobius, dois gêneros endêmicos da mata atlântica, que apresentam problemas frequentes quanto aos seus relacionamentos em classificações anteriores. Posteriormente, ainda com base em caracteres moleculares, foram incluídos na subfamília os gêneros Crossodactylodes e Rupirana, também dois gêneros endêmicos do Brasil e que igualmente apareceram em diferentes famílias em classificações anteriores. Até o momento, Paratelmabiinae é sustentado apenas por dados moleculares, não sendo conhecidos caracteres morfológicos que o corroborem. Diversos trabalhos têm demonstrado a utilidade de dados morfológicos das larvas para estudos comparativos e evolutivos e para reconstruções filogenéticas. Assim, este trabalho visa revisar e descrever a morfologia externa, a anatomia da cavidade oral e do condrocrânio de girinos dos gêneros de Paratelmatobiinae, com a intenção de fornecer uma base comparativa e caracteres que possam ser incluídos numa matriz morfológica a fim de se testar as hipóteses de monofiletismo da subfamília e das relações inter e intragenéricas. Para o estudo, larvas de C. bokermanni, C. itambe, C. izecksohni, Scythrophrys sp. n., P. poecilogaster, P. yepiranga e Paratelmatobius sp. n., R. cardosoi e de representantes das subfamílias Leiuperinae e Leptodactylinae foram obtidas em coleções científicas. Larvas de S. sawayae e de P. gaigeae foram obtidas diretamente no campo. Os espécimes analisados foram comparados com as descrições originais e com material topotípico e/ou de localidades próximas, como forma de produzir novas descrições padronizadas para as espécies. Amostras de 53 espécimes de girinos de Paratelmatobiinae (4 de P. gaigeae, 5 de P. poecilogaster, 5 de P. yepiranga e 4 de Paratelmatobius sp. n., 9 de R. cardosoi, 6 de S. sawayae, 3 de Scythrophrys sp. n.), além de 7 amostras de girinos de Leiuperinae (2 de P. cuvieri, 3 de P. erythros e 2 de P. maximus) e 8 de Leptodactylinae (4 de L. fuscus, 2 de L. labyrinthicus e 2 de L. latrans) foram diafanizadas para descrição do condrocrânio. Para análise em microscópio eletrônico de varredura foram dissecados 14 espécimes (1 de C. bokermanni, 2 de C. itambe, 1 de C. izecksohni, 1 de Crossodactylodes sp. n., 1 de P.gaigeae, 2 de P. poecilogaster, 1 de Paratelmatobius sp. n., 1 de P. yepiranga, 1 de R. cardosoi, 1 de S. sawayae, 2 de Scythrophrys sp. n.). A fim de verificar como os caracteres morfológicos se comportam na topologia e a utilidade dos mesmos para análises filogenéticas, foi feita análise de parcimônia com sessenta e sete caracteres (obtidos da literatura e do exame dos exemplares) e de nove espécies da subfamília Paratelmatobiinae (C. bokermanni, C. itambe, C. izecksohni, P. gaigeae P. poecilogaster, P. yepiranga, Paratelmatobius sp. n., R. cardosoi, Scythrophrys sp. n.), seis leptodactilídeos (P. cuvieri, P. erythros, P. maximus, L. fuscus, L. labyrinthicus e L. latrans) e uma de Rhinella (R. henseli). As análises foram feitas por meio do programa TNT 1.1, usando busca exata por enumeração implícita, escolhendo Rhinella como raíz. Os suportes dos ramos foram inferidos usando o índice de Bremer e valores de bootstrap. As topologias das árvores encontradas por máxima parcimônia e os estados de caráter que suportam cada ramo foram comparados com a topologia obtida com a supermatriz de Fouquet et. al. (2013) na qual os caracteres foram otimizados. Com base nos caracteres morfológicos dos girinos, o monofiletismo da subfamília foi fracamente sustentado porquatro estados de caráter homoplásticos (crista mediana triangular com projeções na extremidade superior (20:1); arena do teto bucal com formato de “U”(22:0); Processus lateralis trabeculae distinto (48:0); copula posterior aproximadamente do mesmo tamanho da pars reuniens (57:1)). O fraco suporte se deve ao fato de Rupirana apresentar morfologia externa, condrocrânio e anatomia interna muito diferentes das do restante da subfamília. O restante dos Paratelmatobiinae forma um clado bem suportado, por seis sinapomorfias (olhos pequenos (3:0); papilas marginais muito reduzidas ou ausentes nas emarginações laterais (9:0); ponta da cauda arredondada (15:2); dois pares de papilas infralabiais ramificados digitiformes (28:3); 11-25 pústulas na arena do piso bucal (32:1); glote parcialmente recoberta pelo velum ventral (37:0)) e duas homoplasias: narinas pequenas (5:0) e arena pré-nasal com crista em forma de “U” invertido recoberta por pústulas (18:1)). Contudo, não há resolução dentro do clado na árvore de consenso estrito. São necessários mais táxons, mais caracteres larvais, e principalmente a adição de caracteres de adultos para reconstruir uma hipótese filogenética melhor resolvida e suportada. Os caracteres larvais, principalmente os anatômicos do condrocrânio se mostraram úteis para reconstruções filogenéticas, e corroboraram parcialmente as hipóteses filogenéticas propostas a partir de caracteres moleculares. Análises utilizando caracteres morfológicos, anatômicos e moleculares são necessárias para avaliar com mais clareza a importância de cada conjunto de caracteres para as análises filogenéticas.