Esta pesquisa objetiva analisar a ocorrência do sofrimento mental (SM) decorrente do
trabalho de professores em uma escola pública estadual paulista no município de Franca, SP.
O SM é composto por uma ampla gama de sintomas decorrentes do processo de adoecimento
gradativo. Apesar de ainda não ter atingido o status de doença, o SM inflige um quadro tido,
muitas vezes, como insuportável, com reflexos físicos e psíquicos que geralmente levam os
profissionais ao afastamento do trabalho. Por ser de difícil detecção em função da
sintomatologia difusa e variada e, principalmente, por não ser devidamente reconhecido pelos
próprios sujeitos e, não amiúde, pelos profissionais da saúde, o SM tem levado os professores
à adoção de medidas individuais e paliativas em seu gerenciamento e que, não raro,
descambam em licenças, abandono e exoneração de cargos. A precarização do trabalho
docente inspira uma investigação que desvele as ideologias subjacentes ao sistema capitalista
e forneça elementos para a compreensão do fenômeno do adoecimento no magistério. A
proposital confusão que se estabelece na busca das causas reais do SM leva professores e
outros profissionais da educação a processos de autoculpabilização e a assumirem como
naturais, as características de uma profissão que adoece, atinge negativamente a subjetividade
do trabalhador e deturpa o sentido ontológico do trabalho e da educação, inserindo alunos e
professores em um sistema que transforma a educação em mais uma mercadoria a ser
consumida via mercado. O SM é, nesta pesquisa, abordado a partir do campo da Saúde do
Trabalhador. Foram feitos estudos bibliográficos acerca da Educação no sistema capitalista e
dos processos de adoecimento decorrentes do trabalho, tendo como interlocutores,
principalmente, Christophe Dejours, Louis Le Guillant e Seligmann-Silva. Foram realizadas
entrevistas semiestruturadas com professores selecionados a partir da situação funcional em
que se encontravam no serviço público, com a finalidade de identificar o SM, abordar suas
causas e verificar como os docentes enfrentam e expressam esta circunstância. A análise do
conteúdo levou à categorização geral a partir de 3 eixos principais que foram: 1) Os elementos
constitutivos do SM; 2) Os Elementos moderadores do SM e; 3) As expressões do SM. As
respostas dos professores foram categorizadas em 3 subeixos que permitiram a abordagem
mais específica do objeto. São eles: 1) SM e condições de trabalho; 2) SM e relações de
trabalho e; 3) SM e o sentido do trabalho docente. Os resultados demonstraram a ocorrência
incisiva do SM entre os professores a expressar-se em sintomas físicos e psíquicos a partir das
condições concretas da efetivação do trabalho. Percebemos a tendência à minimização do
problema em função de crenças pessoais e coletivas desenvolvidas a partir do modo como se
concebe o trabalho na sociabilidade capitalista. Também verificamos que o SM é enfrentado
individualmente pelos professores, pois que a organização do trabalho docente nas escolas
não permite a abordagem e expressão coletivas da questão, dificultando a criação de políticas
públicas e medidas que o atinjam em suas causas básicas e de modo efetivo.