Os cerca de 20 estuários do setor nordeste da Zona Costeira Amazônica são caracteristicamente moldados e tem sua hidrodinâmica controlada pelo regime de macromarés e importantes variações sazonais das descargas fluviais. Por outro lado, as bacias de drenagem associadas a estes estuários, assim como suas descargas fluviais, variam em até 3 ordens de grandeza, desde dezenas até dezenas de milhares de quilômetros quadrados. Neste contexto o estuário do rio Gurupi se destaca com cerca de 35 mil km2 de bacia de drenagem e uma vazão média de 472 m3/s. O estuário do rio Gurupi possui poucos estudos apesar de sua grande dimensão e importância (socioeconômica e ambiental). O que motivou o desenvolvimento do presente trabalho, voltado para o entendimento de sua morfologia e hidrodinâmica. Assim, foram realizados levantamentos de dados na estação chuvosa (Abril e Maio) e na estação de seca (Novembro) em condições de maré de sizígia, incluindo levantamentos hidrodinâmicos longitudinais (nível d’água, salinidade e material particulado em suspensão-MPS...) e transversais (velocidade de correntes, vazão, nível d’água, salinidade, MPS...), levantamentos morfossedimentares, assim como análise da bacia hidrográfica do Gurupi. Com relação à hidrodinâmica em geral, pode-se afirmar que o estuário do Gurupi apresenta características típicas de um estuário de macromaré, assim como sua morfologia. Por outro lado, os resultados demonstram uma grande importância da vazão fluvial expressa, por exemplo, em termos da relativa baixa variação sazonal, do domínio de correntes de vazante mesmo durante períodos de seca, e da razão de aprox. 6 da vazão de maré comparada com a vazão fluvial máxima, onde o domínio pleno de maré só seria atingido com razões acima de 10. O domínio de vazante em ambos os períodos sazonais indica que o estuário é um exportador de sedimentos, e explica em grande parte a pouca variação sazonal da batimetria e sedimentologia no setor estudado. Apesar da importância da vazão fluvial, a maré se propaga por mais de 100 km em ambos os períodos, sendo isto controlado pela baixa elevação da maior extensão do canal fluvial. Porém, o incremento de vazão fluvial resulta em uma maior e mais rápida atenuação da maré. Os dados de salinidade e MPS mostram um comportamento típico de estuários de macromaré durante o período seco, com uma marcada formação de Zona de Turbidez Máxima. Porem, durante a estação de chuvas, a vazão fluvial “empurra” a ZTM para a região do funil estuarino e a mesma é bastante atenuada, embora as concentrações médias de MPS sejam muito superiores no período de chuvas. Acredita-se que este trabalho tenha sido bem sucedido na caracterização deste estuário importante, mas até então pouco conhecido, mas também revela a necessidade de continuidade dos estudos envolvendo também condições de maré de quadratura e séries temporais mais longas para se melhor entender o papel da vazão fluvial e suas variações sazonais.