Upogebia vasquezi é a uma das espécies mais abundantes dentre os talassinóideos (Axiidea e Gebiidea) da costa amazônica, sendo uma espécie-chave na cadeia trófica aquática na região. A despeito da sua importância, muito pouco é conhecido sobre a sua ecologia, principalmente em relação à biologia larval e reprodutiva. O objetivo desta pesquisa foi descrever os estágios de desenvolvimento larval e analisar o efeito da salinidade sobre os estágios larvais de U. vasquezi, além de estimar os parâmetros de dinâmica populacional, a produção secundária e a taxa de renovação da população adulta dessa espécie na região estuarina amazônica. As fêmeas ovadas para os experimentos de desenvolvimento larval em laboratório e os espécimes para o estudo de dinâmica populacional e produção secundária, foram coletados na zona entremarés da
região estuarina de Marapanim, Pará, Brasil. Em relação ao desenvolvimento larval, Upogebia vasquezi passa por quatro estágios de zoea e uma megalopa, assim como a maioria das espécies de Upogebia. As principais variações morfológicas interespecíficas encontradas entre as zoea de U. vasquezi e as congêneres, foram o padrão de segmentação do endópodo antenular e número de estetos, o número de cerdas no escafognatito e a presença ou ausência de palpo mandibular. Os resultados relativos à análise do efeito da salinidade sobre o desenvolvimento larval de U. vasquezi em laboratório, e da abundância larval em ambiente natural ao longo de um gradiente estuarino salino, forneceu informações sobre a estratégia reprodutiva adotada pela espécie na região. Tanto os resultados obtidos em laboratório quanto in situ, indicam que as condições ótimas para a sobrevivência larval de U. vasquezi são de salinidades intermediárias e elevadas (20 – 35). Portanto, indicam que possivelmente essa espécie adota estratégia de exportação larval das águas estuarinas, com re-invasão das megalopas para assentamento, assim como o padrão mais comumente relatado para Upogebia. A capacidade de completar o desenvolvimento larval em salinidades intermediárias é de suma importância para a dispersão das larvas de U. vasquezi na extensa Plataforma Continental Amazônica, caraterizada pela flutuação sazonal da salinidade regida pelo regime pluviométrico. Com o estudo de dinâmica populacional, verificou-se que U. vasquezi teve menor comprimento máximo teórico e maior constante de crescimento em relação às congêneres, de latitudes mais elevadas. Por outro lado, a expectativa de vida estimada para a maioria das espécies foi relativamente próxima, independentemente da latitude. A produção estimada para U. vasquezi foi relativamente próxima a de outros talassinóideos. Por outro lado, a taxa de renovação foi maior (P/B = 2,14), indicando um rápido crescimento individual e maior frequência de indivíduos de tamanhos menores/intermediários na população. Upogebia vasquezi foi o primeiro decápode que teve a produção secundária e taxa de renovação estimados na região equatorial, e também a primeira estimativa para o ambiente de praia estuarina da costa norte brasileira.