O objetivo geral do presente estudo é avaliar o impacto da pesca industrial de arrasto sobre os ecossistemas da margem continental do Sudeste/Sul do Brasil e neste sentido apresenta, pela primeira vez, estimativas de consumo de combustível e emissões de gases de efeito estufa; estimativas de área varrida e “pegada espacial”; além de valores de diversidade, equitabilidade, nível trófico médio, vulnerabilidade média e resiliência média para a captura desembarcada por esta frota. Os dados analisados são compostos por características das embarcações, desembarques, áreas de pesca e duração dos arrastos de 10.144 operações de pesca monitoradas, em Santa Catarina, entre 2003 e 2011. Foram consideradas três estratégias de pesca principais: arrasto de camarões, arrasto de talude e arrasto de parelhas. Todas as análises foram realizadas em ambiente de SIG (Sistema de Informação Geográfica) e os dados especializados em quadrantes de 30’ × 30’. Como resultados temos que, em conjunto, estas operações consumiram mais de 141,5 milhões de litros de diesel para desembarcar 342,3 milhões de kg de pescado. Anualmente, foram consumidos de 0,36 a 0,48 litros para cada kg de pescado desembarcado. Esta intensidade de uso de combustível é decorrente do fato de que todas as estratégias de pesca atuam em capturas multiespecíficas para aumentar seus rendimentos, porém se apenas as espécies-alvo forem consideradas, as estimativas de consumo de combustível aumentam 316-1025%. Em nove anos as operações de arrasto emitiram 104,07 GgC para a atmosfera e entre 36.800 e 49.500 toneladas de CO2 por ano. A delimitação da “pegada” da pesca industrial de arrasto do Sudeste e Sul do Brasil e suas principais áreas “núcleo” foi um primeiro passo para avaliar o impacto espacial em tais áreas, fornecendo informações preliminares para uma futura gestão ecossistêmica da pesca e estratégias de planejamento espacial marinho. Deve-se observar que os valores obtidos para a área varrida e “pegada espacial” podem estar subestimados em função de fatores que limitaram a estimativa precisa das áreas varridas (pela ausência de dados de arrastos individuais) e a extrapolação para todo o universo da frota de arrasto na região. Considerando estas incertezas, verifica-se que a frota industrial de arrasto que opera no Sudeste e Sul do Brasil, no período de estudo, apresentou uma área varrida de 680.697,5 km2. A maior parte da biomassa desembarcada nos portos de Santa Catarina (55,67%), neste período, pela frota industrial de arrasto, teve origem no intervalo de latitude Sul (sul de 29°S), sendo as classes de substrato Areia Fina, Areia Lamosa e Lama as mais representativas da origem desta biomassa. Capturas obtidas nas áreas de pesca mais profundas (plataforma externa, quebra da plataforma e talude) apresentaram os menores valores de diversidade, equitabilidade e
7
resiliência média e os maiores valores para nível trófico médio e vulnerabilidade média, enquanto que a biomassa removida das áreas mais rasas (plataforma interna e plataforma média) apresentou um comportamento contrário. Constatou-se uma leve tendência de queda nos valores do nível trófico médio das capturas, durante 2003-2011, padrão este fortemente afetado pela oscilação nos desembarques das principais espécies-alvo. O índice da pesca em equilíbrio (Fishing-in-Balance index - FiB) sofreu um incremento durante o período avaliado, possivelmente como resultado da expansão da área de ocupação da frota de arrasteiros em direção ao talude, explorando desta forma, um ecossistema mais amplo. A partir dos resultados obtidos, este estudo propõe a demarcação espacial de três categorias de área de pesca (A, B e C), baseado no grau de impacto a que cada uma delas foi submetida pela frota industrial de arrasto do Sudeste/Sul do Brasil, no período avaliado. O grau de impacto destas áreas foi baseado em valores de emissão de Carbono, remoção de biomassa e percentual de área varrida. Além disto, foram considerados, na classificação destas áreas os valores de atributos das comunidades e populações marinhas (i.e. diversidade, equitabilidade, nível trófico médio, vulnerabilidade média e resiliência média) obtidos a partir de informações da captura desembarcada por esta frota. Para cada um destes indicadores ecológicos e de impacto foram atribuídos valores (1, 3 e 5) para o cálculo do Índice do Estado do Ambiente (IEA). Os valores obtidos para o IEA também foram espacializados em quadrantes de 30’ × 30’, dando origem as três categorias de área de pesca. A área de pesca “A” é a que apresenta os maiores valores de impacto provocados pelas altas emissões de Carbono, alta remoção de biomassa e alto percentual de área varrida, além de alto valor de diversidade, equitabilidade e resiliência média e baixos valores de nível trófico médio e vulnerabilidade média. Por sua vez, a área de pesca “C” é a menos impactada por emissões de Carbono, remoção de biomassa e área varrida, porém é a que apresenta os menores valores de diversidade, equitabilidade e resiliência média, além de possuir os maiores valores de nível trófico médio e vulnerabilidade média. Finalmente a área de pesca “B” apresenta valores intermediários às outras duas. A partir destes resultados são propostas ações de gestão para esta pescaria, do tipo “freezing the footprint” e Áreas de Exclusão de Pesca (AEP), além da implementação de outros estudos sobre as espécies marinhas afetadas direta e/ou indiretamente, e seus habitats também impactados.