A espécie Cryptococcus gattii é uma levedura encapsulada causadora da Criptococose e que
comumente acomete hospedeiros imunocompetentes. O tratamento convencional da
Criptococose é determinado por uma terapia antifúngica prolongada, geralmente com o uso de
Fluconazol (FCZ) e Anfotericina B (AMB). Entretanto, essa terapia se caracteriza pela alta
toxicidade e pode estar envolvida na emergência de linhagens resistentes. Esta emergência,
por sua vez, pode ser provocada pelo uso de pesticidas nas culturas de eucaliptos onde o
micro-organismo é encontrado. Nesse contexto, o objetivo geral desse estudo foi avaliar, in
vitro, a influência de agroquímicos na susceptibilidade de C. gattii aos antifúngicos de uso
clínico. Dentre os diversos compostos químicos utilizados em grande escala como protetores
dessas culturas os herbicidas glifosato (GLI), flumioxazin (FLU), isoxaflutol (ISO),
pendimentalina (PEND); o inseticida fipronil (FIP) e o fungicida benomyl (BE) foram
selecionados para os testes do presente trabalho. Para este estudo os agroquímicos foram
testados individualmente e em combinação com os antifúngicos Fluconazol e Anfotericina b.
A partir dos testes de susceptibilidade foi realizado a seleção das linhagens menos
susceptíveis aos agroquímicos, por meio da indução da resistência secundária in vitro aos
pesticidas. Após a seleção das linhagens menos susceptíveis, os testes de susceptibilidade e
combinação foram novamente realizados contra os isolados selecionados. Em relação ao teste
de micro-diluição, todas as linhagens testadas apresentaram susceptibilidade aos
agroquímicos sendo os valores de CIM para o fungicida benomyl (4-8 µg/mL), aos herbicidas
flumioxazin (4-16 µg/mL), isoxaflutol (128-256 µg/mL), pendimentalina (256 µg/mL) e ao
inseticida fipronil (128-256 µg/mL). As linhagens testadas não apresentaram susceptibilidade,
somente ao herbicida glifosato, sendo o valor da CIM >256 µg/mL. As interações entre esses
agroquímicos e os antifúngicos foram consideradas indiferentes, porém quando as interações
foram analisadas para cada linhagem e dependente da concentração, foi observado um perfil
de sinergismo para as interações FLU/FCZ, FIP/AMB, ISO/FCZ, GLI/FCZ e GLI/AMB; e
antagonismo para as interações BE/FCZ, ISO/AMB, GLI/FCZ e GLI/AMB. Quanto à seleção
das linhagens menos susceptíveis aos agroquímicos, a linhagem 196L/03 foi selecionada para
todos os pesticidas, exceto para o benomyl, cujo isolado L24/01 foi o obtido. Foram
observados possíveis eventos de resistência cruzada quando a amostra L24//01, resistente ao
benomyl, também apresentou um perfil de resistência ao antifúngico FCZ; e a linhagem
196L/03, resistente ao isoxaflutol, apresentou um perfil de resistência à AMB. Além disso, foi
observado um evento de heterorresistencia em relação ao isolado 196L/03 resistente ao
flumioxazin. Os resultados do presente estudo forneceram novas percepções acerca da
influência dos agroquímicos e de suas interações com os antifúngicos de uso clínico frente ao
C. gattii. Inferiu-se a possibilidade de resistência cruzada entre o fungicida benomyl e
fluconazol; e entre o herbicida isoxaflutol e anfotericina b.