Embasada nos limites da investigação dos autores da Teoria Crítica da Sociedade, mais especificamente em Theodor W. Adorno, além também de Max Horkheimer – nas obras de publicação conjunta –, esta pesquisa imersa no campo teórico da Psicologia buscou analisar, meio à divisão social do trabalho no capitalismo tardio, a concepção do tédio como o reflexo do cinza objetivo à luz do que Adorno pôde formular no ensaio Tempo Livre. Para tal, estabeleceram-se dois eixos centrais de análise. Em seu primeiro movimento, discorre-se sobre os limites da semiformação e os impactos a ela interligados em vista das contradições da organização do mundo do trabalho no enredamento do tédio. Já num segundo ponto, discute-se a pertinência e necessidade da ciência psicológica em se orientar, no enfrentamento de sua teoria e práxis por saberes outros, além de seus domínios, tais como os provenientes da Filosofia, da Arte, da Educação e da Sociologia, por afiançarem diálogos fronteiriços na investigação do tédio e dos impasses dele decorrentes. No bojo deste empreendimento, assinala-se a gênese contemporânea do tédio acarretada pelos anacronismos presentes na dinâmica do mundo do trabalho, onde os destinos das causas humanas são desviados cada vez mais de seus propósitos iniciais, constatados na mutilação da experiência, da espontaneidade, na coisificação da consciência e rebaixamento dos sentidos em detrimento da pronta submissão aos comportamentos economicamente objetivados. Tal condição sustenta, como expansão do tempo do trabalho, a invasão do tédio no denominado tempo livre via ideologia dos produtos ligados à indústria cultural que, ao acionarem mecanismos psicológicos específicos para a prontificada adaptação à realidade estrita, restringe nos homens maiores capacidades de resistência e elaboração, de maneira que fossem capazes de sentir, pensar e agir nos princípios de uma vida mais digna. Posteriormente, abre-se ainda um questionamento sobre os limites da teoria e práxis no círculo da psicologia, no intuito de refletir se o conhecimento dela proveniente tende a sucumbir ao cinza objetivo do tédio ou, se contrariamente, vêm apresentando na contemporaneidade uma práxis que resiste a um saber meramente utilitário. Admite-se que estão dissolvidos nos propósitos da ciência psicológica questionamentos que não cabem somente a ela enveredar. E nisso a filosofia, a sociologia (donde a própria psicologia provém), assim como a educação e a arte se enlaçam, estabelecem resistência e se colocam como pontos de confluência e diálogo ao que à psicologia é essencial, como conhecimentos que circunavegam na crítica à semiformação.