A alta tecnologia no campo da cardiologia intervencionista aplicada em hospitais terciários
trouxe enormes benefícios no tratamento de doenças isquêmicas do coração (DIC). No
entanto, as taxas de mortalidade por DIC, em especial, por Infarto Agudo do Miocárdio com
Supradesnivelamento do Seguimento ST (IAMCSST), permanecem elevadas, atingindo
notadamente os países desenvolvidos e cada vez mais os países em desenvolvimento.
Avaliamos neste trabalho a relação entre a taxa de mortalidade por DIC e as condições
socioeconômicas, demográficas e geográficas em 399 cidades do estado do Paraná, Brasil, de
2006 a 2010, como também fatores relacionados com atrasos para o inicio do tratamento de
pacientes com IAMCSST em um hospital terciário (Centro de referência em cardiologia
intervencionista) para apoiar um plano estratégico para modificações estruturais e de pessoal
em um hospital primário alinhando o processo com as diretrizes internacionais. Os dados
sobre mortalidade por DIC no estado do Paraná foram obtidos no Sistema de Informações de
Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde e as informações populacionais, socioeconômicas
e demográficas foram disponibilizadas em formato digital pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Dados complementares para avaliar os atrasos no tratamento
de pacientes com IAMCSST em um hospital terciário a partir (originados) de um hospital
primário foram obtidos através do prontuário médico e entrevistas. Utilizou-se diferentes
métodos: a Análise Exploratória de Dados Espaciais (AEDE); uma análise integrada
qualitativa e quantitativa, incluindo observações in loco, entrevistas, análise dos registros nos
prontuários dos pacientes, Análise Qualitativa Comparativa (QCA) e Dinâmica de Sistemas
(SD). Para o tratamento dos dados, foram utilizados os softwares GeoDA TM , NVIVO versão
10.0, R statistical versão 2.15.0 e Vensim DSS ® version 5.11. Na Análise Exploratória de
Dados Espaciais (AEDE) encontramos uma autocorrelação espacial positiva a respeito de
mortalidade por DIC (I = 0,5913, p = 0,001) no estado do Paraná. Houve uma associação
espacial positiva significante entre três indicadores socioeconômicos e demográficos e as
taxas de mortalidade por DIC: Proporção de Idosos na População (I = 0,3436 p = 0,001),
Taxa de Analfabetismo (I = 0,1873 p = 0,001) e Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDH-M) (I = 0,0900 p = 0,001). Além disso, outros dois indicadores apresentaram
associação espacial negativa significativa com as taxas de mortalidade por DIC: População
ajustada por idade (I = -0,1216 p = 0,001) e Produto Interno Bruto (I = -0,0864 p = 0,001).
Também foi encontrada uma autocorrelação espacial positiva entre as taxas de mortalidade
por DIC e as distâncias geográficas entre as cidades de residência dos pacientes e seus
correspondentes centros de referência em cardiologia intervencionista (I = 0,3368). Cidades
localizadas dentro de Regionais de Saúde com centro referência em cardiologia
intervencionista apresentaram uma taxa de mortalidade significativamente mais baixa por
DIC. À alta taxa de mortalidade por DIC dentro das Regionais de Saúde não se restringiu a
variáveis socioeconômicas e demográficas, mas apresentou correlação positiva com a variável
‘distância entre cada cidade e seu centro de referência de cardiologia intervencionista’.
Quando analisado os fatores relacionados com atrasos no tratamento de pacientes com
IAMCSST a partir de um hospital primário, as principais causas foram categorizadas em três
temas: a) profissional, b) equipamentos e c) logística de transporte. A análise comparativa
qualitativa (QCA) confirmou quatro estágios principais de atrasos para o cuidado do paciente
com IAMCSST em relação ao tempo 'Door-In to Door-Out' no hospital primário. Estes
estágios e seus atrasos médios em minutos foram: a) Primeiro contato médico (da porta de
entrada até o primeiro contato com a enfermeira e/ou médico): 7 minutos; b) Aquisição do
eletrocardiograma (ECG) e avaliação por um médico: 28 minutos; c) Transmissão do ECG e
feedback do hospital terciário (Centro de referência em cardiologia intervencionista): 76
minutos; e d) Tempo de espera para transferência do paciente: 78 minutos. A linha de base do
Modelo de Dinâmica de Sistemas confirmou o comportamento do sistema, sobre todos os
atrasos que ocorrem e as necessidades de melhorias. Além disso, após a validação de análise
de sensibilidade, os resultados sugeriram que uma melhoria global de 40% a 50% em cada
uma destas fases identificadas iria reduzir o atraso. Concluímos que fatores geográficos
desempenham um papel significativo na mortalidade por DIC dentro dos municípios do
estado do Paraná e têm implicações políticas importantes com relação à distribuição
geográfica das redes de cuidados de saúde cardiovascular. Avaliação in loco do atraso no
tratamento do paciente com IAMCSST sugere que o investimento na formação de pessoal de
saúde, a diminuição da burocracia e gerenciamento de diretrizes pode levar a melhorias
importantes, diminuindo o atraso identificado.