O estuário do Rio Caeté, localizado na Zona Costeira Amazônica, vem sendo amplamente estudado em sua porção inferior nos últimos anos, servindo inclusive de modelo hidrodinâmico e geomorfológico para o entendimento dos processos nos vários estuários da região. A bacia do Caeté possui uma área de drenagem de aproximadamente 1.946 km², sofrendo grande influência da sazonalidade, tendo como principais processos condicionantes da dinâmica ambiental a energia das macromarés semidiurnas com altura média de 4,8 m e alturas máximas superiores a 5,5 m, ocorrendo, portanto, fortes correntes de maré, apresentando um papel de muita importância na circulação local, assim como na descarga fluvial. Por outro lado, a zona de transição entre o domínio franco das marés e o domínio fluvial ainda é pouco conhecido. Com foco na hidrodinâmica local, este trabalho buscou identificar e analisar os efeitos da sazonalidade sobre os padrões de circulação e transporte a partir de dados de vazão, velocidade de correntes, altura de maré e material particulado em suspensão na porção superior do estuário do rio Caeté. A partir dos dados levantados em 2009 e 2010 (material particulado em suspensão), 2010 e 2011 (hidrodinâmica) utilizando-se ADCP (Acoustic Doppler Current Profiler), marégrafos digitais, réguas, garrafas coletoras de água, sonda multiparâmetros e GPS, foi estimada à deformação e atenuação da maré ao longo do alto estuário. Os resultados demonstraram que a maré avança até aprox. 74 km (a partir da entrada da baía do Caeté – Vila dos Pescadores) no estuário durante o período de seca/baixa vazão fluvial. Durante o período de chuvas/alta vazão este avanço se reduz em cerca de 10 km. Observou se ainda que o decaimento (atenuação) da maré se acentua muito a partir do km 52, em função principalmente da topografia e profundidade do canal, onde nesse setor o leito se torna elevado demais para ser influenciado diretamente pela maré, sendo então a variação de nível d’água a montante deste ponto um reflexo da variação do nível de base na foz do rio. No período de chuvas este processo se intensifica, quando o decaimento da altura de maré se torna exponencial. Os dados no geral demonstraram que a morfologia do canal (elevação e profundidade) é o fator preponderante para o decaimento da maré a montante do km 52, onde a vazão fluvial passa a ser relevante, sendo, portanto, este setor considerado de domínio fluvial. Os dados de MPS revelaram baixas concentrações (e.g. 0,003 g/L), correspondendo a um aporte diário para o estuário da ordem de 10 toneladas de sedimento. Porém, ainda que se considere uma escala de tempo geológica, a fonte fluvial direta corresponderia somente a uma fração reduzida dos sedimentos lamosos depositados à jusante.
Palavras-chave: Propagação da maré, Costa Amazônica, alto estuário, vazão fluvial.