O papel da litologia e da organização tectônica Proterozóica para entendimento da
gênese do relevo, em termos de erosão diferencial, tem sido relativamente
negligenciado nos últimos decênios em favor de linhas de explicação baseadas nas
mudanças paleoclimáticas, tectônica moderna, e geoquímica de superfície. Fato que
tem permitido a formação de modelos explicativos “fechados” sobre a gênese e
dinâmica do relevo. Entretanto, em áreas de embasamento cristalino a organização
tectônica e a diversidade composicional químico-mineralógica das rochas auxilia
fortemente o entendimento do papel da erosão diferencial, na explicação da
diversidade de compartimentos geomórficos. A organização tectônica das rochas,
através de sistemas de falhas e dobras de fundo (estudados na década de 1950 por
Francis Ruellan), tem papel fundamental no entendimento dos processos de erosão
diferencial responsável pela diversidade de compartimentos geomórficos. Neste
sentido, este trabalho procura provar, através do método da Associação e
Indeterminação Geomorfológica de Leopold e Langbein (1970), que a Região
Serrana do Espírito Santo, e, em especial, a da bacia hidrográfica do Rio Benevente
é resultante da erosão diferencial sobre rochas de rica diversidade químico-
mineralógica, organizada por meio de dobras de fundo e sistemas de falhas
transcorrentes conjugadas. Para realização desta investigação foi elaborado uma
proposta de cartografia hidrogeomorfológica para pesquisa de bacias hidrográficas,
estudando-se a evolução dos perfis fluviais longitudinais, perfis morfogeológicos,
estruturas tectônicas e composição químico-mineralógica das unidades litológicas
associado a compartimentação morfológica do relevo. Tudo fundamentado no
método escolhido. O que certamente parece ser uma coisa óbvia, no entanto,
evidencia a atuação de um verdadeiro sistema de dissecação fluvial, associado ao
rebaixamento de níveis de base (knickzonas) que evoluem conforme o mergulho da
foliação metamórfica dos flancos das dobras e da zona de dano associado às falhas.
A conclusão que se chega é a de que o relevo da bacia do Rio Benevente, e por sua
vez da Região Serrana do Estado, configura-se como compartimentos geomórficos
residuais resultantes da evolução de knickzonas fluviais associadas à organização
tectônica das dobras de fundo responsáveis pela gênese de níveis diferenciais de
resistência litológica e de distribuição espacial das falhas e fraturas. A composição
das unidades litológicas também influencia, fortemente, a compartimentação do
relevo, estando o nível de convexização dos relevos e a dissecação na forte
dependência do grau de participação dos minerais do grupo dos plagioclásios,
anfibólios e piroxênios na constituição litológica das litoestruturas.