Esta pesquisa trata das negociações de gênero e sexualidade em aulas de Educação
Física no ambiente escolar. Nele, observei, descrevi e analisei como se dão as
negociações fundamentadas em noções de masculinidade e feminilidade; como alunos e
alunas reforçam e/ou contestam valores e normas relativas ao gênero; como as
negociações de gênero e sexualidade podem produzir inclusões ou exclusões e como as
masculinidades e feminilidades são performadas, vigiadas e avaliadas no cenário de
uma Escola Estadual na cidade de Goiânia. Nessa premissa, procurei por enunciados
prescritivos, normativos, normalizantes que poderiam ser explicitados ou dissimulados
em documentos oficiais da escola, dentre eles o Projeto Político Pedagógico e o
Regimento Escolar, bem como no cotidiano das aulas de Educação Física. Como
referencial teórico e metodológico capaz de subsidiar a construção desse trabalho, lancei
mão da análise do discurso de viés francês, tendo em Michel Foucault o guia para o
entendimento da construção dos enunciados, discursos, atos de fala e subjetivação.
Apropriei-me do conceito de performance apresentado por Richard Schechner que me
instigou a ver o comportamento como resultado da ritualização de sons e gestos já ditos
ou realizados anteriormente, onde o comportamento ao ser duplamente exercido,
codificado e transmitido, seria visto como um comportamento restaurado. De Judith
Butler, empreguei o conceito de performatividade que me permitiu compreender como
as performances/interpelações fundantes, através de uma gama de repetições e subsídios
sociais, instituem nos corpos de alunas e alunos os discursos que criam aquilo que
nomeiam. Além das categorias e conceitos teórico-metodológicos expostos acima, esse
trabalho se baseou nos apontamentos feitos pela pesquisadora Guacira Lopes Louro, a
qual compreende que a escola como um locus capaz de influenciar e “pedagogizar” as
relações de gênero e de sexualidade e Jocimar Daólio, no contexto da Educação Física,
me ajudou a entender que o corpo e o movimento são resultados da cultura na qual estão
imersos. Nessa direção, a cultura foi por mim vista como resultado das formações
discursivas que, por apresentarem certo número de enunciados, com semelhança na
dispersão, na escolha dos objetos, conceitos, temáticas e regularidades, influenciam os
discursos das mais diferentes áreas a significar corpo, o movimento, a sexualidade e
também o entendimento e a vivência de modelos de feminilidade e masculinidade.
Como resultado essa dissertação concluiu que os documentos diretivos da escola
analisada reverberam estratégias de poder que promovem a manutenção da hierarquia
baseada nas relações entre os gêneros. Já as aulas de Educação Física demonstraram ser
espaços que privilegiam arquétipos tidos como masculinos, entretanto, as exclusões,
quando ocorreram, nem sempre tinham o sexo como fator principal. Dessa forma
observou-se que as exclusões eram também ocasionadas por marcadores como
habilidade, capacidades físicas, morfologia corporal, principalmente quando o conteúdo
principal das aulas eram os esportes.