Antibióticos são, de longe, a quimioterapia que teve o maior sucesso e transformou consideravelmente a humanidade, no entanto , em meio a uma possível ameaça de bactérias super-resistentes (BSR), a Organização Mundial de Saúde (OMS), em junho de 2014, lançou um relatório de alerta da ameaça mundial da resistência antimicrobiana (RA) reforçando a necessidade da tomada de medidas em caráter de urgência, como a de desenvolver novas ferramentas e estratégias para combate à RA. O nosso grupo de trabalho anteriormente isolou e caracterizou um peptídeo antimicrobiano chamado LyeTx I o qual demostrou ser um modelo para o desenvolvimento de novos antibióticos contra bactérias e fungos. Neste trabalho, iniciou-se a caracterização do peptídeo Des-His16-LyeTx I, peptídeo derivado do LyeTx I que, por análises por bioinformática e ensaios antimicrobianos preliminares, demonstrou maior atividade do que o peptídeo original, LyeTx I. O peptídeo Des-His16-LyeTx I foi sintetizado utilizando-se a metodologia de Fmoc, seguindo-se a purificação em cromatografia líquida de alta eficiência, em fase reversa, e análise por espectrometria de massa (MALDI-TOF). Foram obtidos 2 peptídeos com a mesma massa monoisotópica = 2737,06 Da e sequência primária, no entanto, com tempos de eluição diferentes na cromatografia líquida de alta eficiência de fase reversa. Estes peptídeos, denominados Pep A e Pep B, foram submetidos à espectroscopia de dicroísmo circular, em soluções com TFE e demostraram diferenças nas proporções de α-hélices. Os ensaios de atividade antimicrobiana com os peptídeos Pep A e Pep B, demonstram inibição do crescimento de bactérias (Aggregatibacter actinomycetemcomitans , Escherichia coli , Staphylococcus aureus e Streptococcus sanguinis) em concentração da ordem de µmol L-1 . O Pep B, em formulação com βciclodextrina, demostrou maior atividade de inibição de crescimento bacteriano do que a formulação com β-ciclodextrina de Pep A. Em experimento de biofilme simples de S. Aureus, a isoforma Pep B foi capaz de reduzir o biofilme em todas as doses testadas. No modelo de artrite séptica em camundongo, as isoformas Pep A e Pep B foram capazes de reduzir o numero de bactérias, bem como a migração de células do sistema imunológico, em concentrações
na ordem de nano gramas. Pep B, mesmo na metade da concentração de Pep A, demostrou ser mais eficiente induzindo uma menor liberação da citosina IL1β e da quimosina CXCL-1 em camundongos, usados no modelo de artrite séptica. Pep B foi capaz de aumentar o limiar de nocicepção em camundongos infectados com S. Aureus, no modelo de artrite séptica. Os resultados obtidos demonstram que as isoformas do peptídeo Des-His16-LyeTx I, Pep A e Pep B, podem constituir bons modelos para o desenvolvimento de novos antibióticos contra bactérias Gram-positivas, Gram- negativas e uma boa ferramenta no uso in vivo.