O Grupo Itararé, de idade permocarbonífera, compreende uma complexa associação de diamictitos, arenitos, lamitos e ritmitos depositados pela ação direta e indireta de geleiras. Na área estudada, que engloba partes das cartas geológicas de Campo Largo, Contenda, Porto Amazonas e Quero-Quero, no sudeste do Paraná, o Grupo Itararé assenta em discordância angular sobre a Formação Furnas, estando ausente a Formação Ponta Grossa devido à erosão ocorrida entre o Neodevoniano e o Eocarbonífero. Arenitos da base do Grupo Itararé possuem características muito similares aos da Formação Furnas, pois ambos apresentam coloração esbranquiçada e predomínio de estratificação cruzada de médio à grande porte. Como consequência, a distinção entre as duas unidades é dificultada, o que acarreta em problemas na cartografia geológica da região, fato já constatado nos trabalhos da Comissão da Carta Geológica do Paraná realizados na década de 1960. Com o intuito de estabelecer critérios de distinção entre as unidades foi realizada uma revisão da litoestratigrafia do intervalo devoniano-neocarbonífero e analisadas as fácies e associações de fácies, direções de paleocorrentes, características petrográficas e morfologia dos afloramentos. A Formação Furnas é constituída por arenito grosso a muito grosso, por vezes cascalhoso, com estratificações cruzadas acanaladas e planares. O Grupo Itararé pôde ser dividido em quatro unidades: I-I) intercalação de lamitos areno-cascalhosos, arenitos, arenitos cascalhosos e conglomerados, com deformação penecontemporânea; I-II) arenitos com lentes de conglomerado, contendo estratificações cruzadas acanaladas, planares ou sigmóides, mais localmente estratificação de baixo ângulo e marcas onduladas cavalgantes e sinusoidais; I-III) lamitos cascalhosos com deformação penecontemporânea e blocos de arenito; I-IV) arenitos com lentes de conglomerado e arenitos com estratificações cruzadas sigmóides e marcas onduladas cavalgantes. A unidade I-I é interpretada como depósitos subglaciais a glaciomarginais, as unidades I-II e I-IV como depósitos de outwash e a unidade I-III como produto de escorregamento subaquoso. Foram identificadas no Grupo Itararé cinco superfícies estriadas, quatro delas inéditas na literatura, com direção média N10E. Em campo, nota-se que a Formação Furnas diferencia-se da unidade I-II do Grupo Itararé por conter estratificações cruzadas mais regulares, seixos e grânulos oligomíticos (quartzo) e morfologia dos afloramentos suave, tendendo a formas arredondadas. Já no Grupo Itararé as estratificações são menos evidentes, a fração cascalho é polimítica e os afloramentos têm feições ruiniformes, possivelmente devido a crostas de óxido de ferro. Constatou-se que os sentidos de paleocorrentes da Formação Furnas são SW e NW e que o Grupo Itararé apresenta uma maior dispersão, variando de SE a NW. Em análise petrográfica ao microscópio ótico, os arenitos do Grupo Itararé distinguem-se pela presença de óxidos de ferro como cimento, filmes de óxido em torno de alguns grãos evidenciando sobrecrescimento de quartzo, grãos mais arredondados, menor grau de compactação e menor proporção de micas.