A molécula do DNA pode ser modificada por substâncias eletrofílicas, tanto de origem exógena quanto endógena. As lesões geradas podem ser mutagênicas e contribuir para o processo de carcinogênese. Assim, desvios significativos da estrutura da dupla hélice desempenham um papel importante no metabolismo do DNA. Um biossensor voltamétrico baseado na imobilização de DNA de fita dupla (dsDNA) sobre eletrodos descartáveis foi desenvolvido para aplicação nos estudos de interação entre corantes têxteis e a molécula do DNA, na ausência e na presença de flavonóides em solução. Os eletrodos modificados foram colocados em contato com soluções de corantes têxteis da classe dos dispersos, o Disperso Orange 1 (DO1) e o Disperso Red 1 (DR1), e seus produtos de eletrólise por oxidação e por redução. A variação dos sinais de oxidação das bases guanina e adenina presentes no dsDNA imobilizado, obtidos antes e após cada interação, foi utilizada como parâmetro de análise dos resultados. O tempo para que a interação DNA:corante ocorresse foi avaliado utilizando o biossensor e estabeleceu-se 180 s. A concentração dos corantes foi analisada na faixa de 1,0 x 10-8 a 1,0 x 10-4 mol L-1, sendo que a variação do sinal voltamétrico das bases foi mais intensa para DR1 (sinais da guanina e adenina decresceram 48% e 51% do seu valor original, respectivamente), enquanto que na presença de DO1, as intensidades de corrente da guanina e adenina diminuíram 30% e 10% de seu valor original, respectivamente, quando comparada a mesma concentração dos corantes de 1,0 x 10-6 mol L-1. Além da diminuição da intensidade de corrente das bases guanina e adenina, o aparecimento de novos picos e deslocamentos do
potencial de pico das bases foram observados após as interações com produtos de eletrólises. Estudos de interação também foram realizados por meio de espectrofotometria UV-Vis em fase aquosa e observaram-se diferentes efeitos de hipocromismo e hipercromismo da banda referente ao DNA em solução após as interações. A análise dos resultados indicou que a interação dos corantes com o DNA ocorre por intercalação dos compostos na fita dupla da biomolécula. Esta intercalação pode induzir mudanças estruturais no DNA, incluindo a abertura da dupla hélice e o alongamento da cadeia de DNA, conferindo aos corantes uma tendência em causar danos ao DNA. O biossensor foi aplicado também para a interação do DNA com o corante não-mutagênico Reativo Blue 15 (RB15) e os resultados indicaram que este corante não causa alterações significativas nos sinais eletroquímicos das bases. Os estudos de interação com os corantes DO1 e DR1 foram conduzidos na presença dos flavonóides miricetina e apigenina e observou-se que os flavonóides apresentaram uma possível capacidade de proteger as bases guanina e adenina de interação com os corantes, visto que o decaimento das intensidades de corrente foi menor. Nos estudos nos quais os flavonóides foram substituídos por soluções de chá verde ou chá de camomila, observou-se também uma capacidade protetora, uma vez que os chás impediram que as bases guanina e adenina sofressem algum tipo de interação ou dano por parte dos corantes DO1 e DR1. Os resultados mostraram que o biossensor desenvolvido, em combinação com a técnica de voltametria de onda quadrada, é adequado para se estudar a interação dos corantes têxteis com o DNA, indicando que estes podem causar danos à molécula de DNA e que tais danos podem ser minimizados por flavonóides e também por chás verde e de camomila, fontes naturais dos flavonóides miricetina e apigenina, respectivamente.